Telhados do mundo - O mal menor

No regresso da viagem à Ásia, na habitual conferência de imprensa no avião, o Papa aconselhou os americanos católicos a votarem nas eleições presidenciais no “mal menor”. Para ele, ambos os candidatos principais são maus, porque têm posições contra a vida. Francisco acusa Trump de ter uma posição intolerável em matéria de imigração, do mesmo modo que acusa Kamala Harris de ter uma posição intolerável em matéria de aborto.

O relevante da resposta de Francisco é que ele, sendo apreciado por muitos fora da Igreja Católica pela sua abertura, não apoia Kamala Harris. Há até quem tenha visto na resposta do Papa um apoio indireto a Trump.

Não sabemos em quem o Papa votaria, mas ele deixa um repto de consciência exigente aos católicos americanos ao dizer que tanto Trump como Kamala são candidatos maus.

A posição de Francisco faz lembrar a de conhecidos intelectuais católicos americanos (George Weigel, Robert George e outros) que desde 2016 recusam votar em Trump, assim como nos candidatos democratas (Hillary Clinton, Biden e agora Kamala Harris). O seu argumento não é religioso, mas baseado na análise de políticas públicas que consideram erradas.

A intervenção de Francisco inscreve-se na defesa do bem comum. Ao olharmos para o espaço que os temas da imigração e do aborto ocupam no debate político americano, com posições cada vez mais radicais e divisivas, devemos pensar se existe um lado que defende o bem e outro que prossegue o mal ou se, pelo contrário, ambos estão errados.

Note-se que o Papa não diz que é uma questão de consciência votar em Trump ou em Kamala, porque ambos são maus, mas que se deve votar no “mal menor”. Não me lembro de Francisco ter tomado no passado uma posição sobre uma eleição de um país nestes termos. Ao fazê-lo agora, é porque entende que a situação é grave.