“Vigias da Inquisição”é o novo livro de Luís Reis Torgal
«É um caso exemplar, paradigmático» da realidade do século XVII e do período conturbado da Restauração. «Uma época dramática», considera Luís Reis Torgal, historiador, catedrático jubilado da Universidade de Coimbra, que confessa que o caso de Manuel Fernandes Vila Real “mexeu” consigo. E tanto assim foi que acabou por escrever um livro sobre a história da condenação desde diplomata ao serviço do rei D. João IV, “Vigias da Inquisição”.
Em causa está um homem que serviu o Estado, representou a Coroa, foi agraciado com o título de “real cavaleiro fidalgo” e se viu confrontado com o poder da «Igreja inquisitorial» e o peso avassalador do Santo Ofício pelo facto de professar a lei de Moisés. As «obras heréticas que trouxe consigo de França», aquando do regresso a Portugal, não foram mais do que um pretexto para a sua prisão. O fundamental foi sempre o seu ADN judeu. Denunciado dentro da Igreja, por «dois franciscanos», Manuel Fernandes Vila Franca é o exemplo provado de que «ninguém tem poder frente a Inquisição»… nem o próprio rei D. João IV.
Na prisão, é sujeito a um sinistro esquema de vigilância, as «vigias para punir», diz o autor – que inspiraram o título do livro - referindo-se aos “buracos” que permitiam monitorizar o comportamento dos presos nas respetivas celas, para «fazer prova» dos seus crimes. Aqui, designadamente, os jejuns que o prisioneiro cumpria. «Tinham de arranjar uma forma judicial de provar que ele era judeu, o que fizeram até as últimas instância», refere Luís Reis Torgal, que conta passo a passo a história deste diplomata e escritor, condenado à partida pela Inquisição, na sua sede de perseguição aos judeus e cristãos-novos.
A obra “Vigias da Inquisição”, com a chancela da editora Temas e Debates, é dedicada a duas investigadoras, Ana Maria Osório e Ângela Gama (já falecida), que trabalharam arduamente no processo inquisitorial de Manuel Fernandes Vila Real. A apresentação, marcada para SEXTA-FEIRA, pelas 18h00, no Museu Municipal de Coimbra – Edifício da Inquisição – está a cargo de outra historiadora, Ana Cristina Araújo, antiga aluna de Luís Reis Torgal, que já tem no prelo uma nova obra, de homenagem ao 25 de Abril, a lançar no início do próximo ano.|