“É preciso definir uma estratégia política para a saúde oral”

Portugal tem médicos dentistas a mais, o que leva muitos a emigrar, mas é um dos países da OCDE onde a população tem mais dificuldade em aceder a cuidados de saúde oral. Não há saúde sem saúde oral e é hoje cada vez mais reconhecido que a atividade clínica do médico dentista é essencial para a saúde geral da população. A saúde oral está correlacionada com mais de duas dezenas de doenças sistémicas e cinco tipos de cancro, para além de ter um inegável impacto na qualidade de vida e autoestima da pessoa, no relacionamento social e até na igualdade de oportunidades na inserção no mercado de trabalho. Isso mesmo sublinha ao Diário de Coimbra Fernando Guerra, professor de Medicina Dentária da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC). Em que ponto estamos em Portugal no que se refere à saúde oral e que desafios se apresentam, desde logo aos médicos dentistas, foi o que quisemos saber junto do também presidente do Conselho Geral da Ordem dos Médicos Dentistas, percebendo que é preciso não só investimento público como também uma estratégia que promova o trabalho conjunto dos setores público, privado e social, a bem do acesso a cuidados e da melhoria da saúde oral dos portugueses.

Privados têm substituído o Estado
Fernando Guerra lembra que, embora a criação do Serviço Nacional de Saúde (SNS), em 1979, tenha ocorrido praticamente em simultâneo com a formação dos primeiros médicos dentistas em Portugal a Medicina Dentária ficou de fora da oferta de cuidados, o que dificultou o acesso da população portuguesa a saúde oral. «A grande maioria dos médicos dentistas tem vindo a trabalhar no setor privado, sendo os responsáveis pela criação, por mote próprio, nestas mais de quatro décadas, de uma verdadeira rede de prestação de cuidados de saúde oral, substituindo o Estado nessa função», declara.