“Belonging” leva a palco diferentes olhares sobre sentimento de pertença
“A quem, a quê ou aonde sentes que pertences?” Esta pergunta difícil é o ponto de partida para “Belonging”, um espetáculo de Raquel André, que tem a missão de estrear a edição deste ano do Festival Linha de Fuga, a decorrer durante este mês de novembro, em vários espaços da cidade e com várias propostas.
A Oficina Municipal de Teatro acolhe hoje e amanhã, às 19h00, esta proposta especial que nasceu em Coimbra, em janeiro, no âmbito de uma residência artística de 15 dias realizada por Raquel André, e que se apresenta como um momento inclusivo, uma vez que todo o espetáculo, além de serviço de audiodescrição, tem tradução em Língua Gestual Portuguesa (LGP).
Raquel André explica que o ponto de partida deste espetáculo é «a ideia de pertencimento» e o estudo da «importância do mapeamento genético das populações através dos testes de ADN... como se eles dessem respostas à pergunta».
No caminho em busca destas respostas, que passou pelo México, Guiné-Bissau, Brasil, China, Alemanha e Portugal, Raquel André cruzou-se com Aliu Baio, um baterista guineense, há 20 anos a residir em Portugal, país ao qual se sente pertencer. Cego, Aliu Baio tem, no entanto, apenas memórias visuais do seu país natal, de onde saiu aos 7 anos. A sua história fez com que Raquel André percebesse que há diferentes perspetivas, em diferentes pessoas, do que é isto do sentimento de pertença. Por isso, a base do espetáculo passou a ser encontrar diferentes pessoas e diferentes perspetivas sobre este sentimento.
Assim, além da história de Aliu Baio, que está, fisicamente, em palco, a acompanhar o espetáculo com a sua bateria, “Belonging” apresenta muitas outras pessoas, com quem Raquel André se cruzou, como é o caso, por exemplo, de uma pessoa que ainda hoje vive na casa onde nasceu, lugar de onde nunca saiu ou também de pessoas que emigraram muito cedo e nunca voltaram ao país natal.
Ter o seu “Belonging” a marcar a estreia desta edição do Festival Linha de Fuga é, por tudo isto, para Raquel André, «uma grande honra», tendo em conta que, como sublinhou, existem coisas em comum entre o festival e o espetáculo que traz a Coimbra estes dois dias. «São ambos resultado de uma grande luta», confirmou a artista, mostrando-se «muito feliz» pela aposta que a organização do festival, com curadoria de Catarina Saraiva, fez neste “Belonging” «uma viagem por possíveis encontros com o sentimento de pertença»