Erva-das-pampas é caso de saúde pública que afeta o litoral
A erva-das-pampas é uma planta que tem crescido sem controlo em espaços públicos e privados ao longo do litoral, provocando alergias e ferimentos a quem com ela interage, avisou uma investigadora especialista em infestantes.
Em declarações à agência Lusa, a bióloga Hélia Marchante, professora da Escola Superior Agrária de Coimbra (ESAC), argumentou que a erva-das-pampas está transformada numa ameaça descontrolada e num problema de saúde pública em Portugal, face à sua disseminação crescente pelo território e capacidade de provocar alergias fora de época e cortes na pele.
Com efeito, ao ser originária das pampas - as planícies da América do Sul que se estendem do sul do Brasil pelo Uruguai e Argentina –, aquela espécie vegetal, cujo nome científico é ‘cortaderia selloana’, acaba por florir e soltar as sementes, no hemisfério norte, desde meados do verão até à entrada do outono (época de primavera no hemisfério sul), podendo provocar um novo (e tardio) pico de alergias respiratórias na população portuguesa.
“Estamos perante um problema de saúde pública”, assegurou a investigadora, garantindo que “já está claro” para a comunidade científica que a planta causa alergias.
Mas não só: as suas folhas finas e compridas têm o potencial de provocar ferimentos na pele (cortes nas mãos e dedos de quem as manuseie), daí o seu nome ‘cortaderia’.
Para ser erradicada de vez, a erva-das-pampas tem de ser retirada pela raiz
Segundo a especialista, a planta invasora é mais perigosa entre meados de agosto (início da floração) e novembro, altura em que deixa de largar sementes, maioritariamente por ação do vento, sendo o período até maio (quando começa a aparecer) o ideal para a arrancar da terra, sem o perigo de espalhar as suas sementes.
Isto porque, para ser erradicada de vez, a erva-das-pampas, que pode chegar a atingir quatro metros de altura, tem de ser retirada pela raiz, com recurso a instrumentos manuais ou maquinaria mais pesada.
Atualmente, já existem campanhas em alguns municípios a avisar a população contra a perigosidade desta espécie exótica invasora, cujo cultivo, criação, comércio, introdução na Natureza e repovoamento é proibido, segundo legislação nacional de 2019, mas cuja dispersão pela berma das estradas, ao longo da ferrovia ou, indiscriminadamente, em terrenos, campos agrícolas e no embelezamento de jardins públicos e privados parece incontrolável.
Uma campanha em curso ensina as pessoas a remover as plumas – que podem chegar a um metro de comprimento e onde se concentram milhares de minúsculas sementes que irão dar origem a outras plantas – e que são a face mais visível e atrativa da “tão bonita, mas tão perigosa” erva-das-pampas, que cresce em altura e cuja cor varia do dourado ao prateado.
Bióloga explica que o cidadão também pode ser envolvido nesta luta
“Temos coisas como o uso de uma aplicação para porem a erva-das-pampas no mapa, tiram uma fotografia e fica geolocalizada. Ou tirar uma fotografia todos os meses para verem como o ciclo de vida está a mudar, arranjarem campanhas dentro ou fora da escola para eles passarem o problema para a comunidade, fazer ações para controlar, ou seja, envolvê-los um bocadinho e esperar que levem isso para casa”, explicou Hélia Marchante.
O projeto em curso, que envolve a remoção da espécie em mais de mil hectares, sucede a um outro, que terminou em 2022, e através do qual os investigadores e parceiros contactaram todos os municípios portugueses sobre a perigosidade da planta, embora a receção dos alertas, por vezes, não tenha sido a melhor.
O problema não é exclusivamente português - na Europa a expansão da erva-das-pampas estende-se pelo sudoeste de França e noroeste de Espanha, até à costa portuguesa de norte para sul – tendo resultado nos projetos internacionais que envolvem, também, investigadores franceses e espanhóis.
Atualmente, segundo Hélia Marchante, o “Life Coop Cortadeira” reúne 190 entidades dos três países envolvidos, desde municípios e comunidades intermunicipais, concessionárias de autoestradas e organismos públicos e privados, onde se inclui, também, uma componente mais formal, de capacitação e formação, em que estes parceiros são convidados a aderir à estratégia de luta contra a espécie invasora.