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“Fico particularmente satisfeito por poder contar com a participação das escolas”

José Augusto Bernardes, professor catedrático da UC, é o comissário-geral da Estrutura de Missão das Comemorações dos 500 anos de Luís de Camões

José Augusto Bernardes, professor Catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC) e ex-diretor da Biblioteca Geral da UC, abraçou, desde setembro, a missão de ser comissário-geral da Estrutura de Missão para as Comemorações do V Centenário do Nascimento de Luís de Camões.

Antigo coordenador do Centro Interuniversitário de Estudos Camonianos, entre 2004 e 2005 e um dos maiores especialistas e conhecedores da obra de Luís de Camões, José Augusto Bernardes, que sucede a Rita Marnoto, também professora da UC, que se demitiu do cargo, está prestes a apresentar, juntamente com o Ministério da Cultura, aquele que é o programa das comemorações, iniciadas a 10 de junho, em Coimbra, e que se prolongam até 10 de junho de 2026.

Em entrevista à Agência Lusa, o comissário-geral confirma que será uma programação «criteriosa e exequível», sendo a principal preocupação que «mobilize várias entidades e contemple atividades de diferente natureza».

«Fico satisfeito por poder dizer que contamos com a participação de autarquias, universidades, fundações e outras instituições de índole cívica e cultural», afirmou, falando numa programação «dinâmica» que «não se impõe de forma fechada e inamovível», antes «pelo contrário».

«Fico particularmente satisfeito por poder contar com a participação das escolas. O encontro dos portugueses com Camões acontece na escola. É no 9.º e no 10.º ano [de escolaridade] que se decide o tipo de relação que os cidadãos e cidadãs manterão com o poeta ao longo da vida. Nessa medida, será dado destaque a iniciativas que mobilizem docentes e públicos juvenis», explicou.

Até porque, como sublinha, o facto de as comemorações dos 500 anos de Camões terem começado antes de a Estrutura de Missão ter iniciado a sua atividade só revela que «os portugueses precisam ainda muito de celebrar Camões. Trata-se de uma necessidade coletiva e não de um simples dever ou um mero ritual», afirmou.

O professor catedrático da UC fala também na atualidade de Camões que «talvez esteja hoje na sua consciência do mundo», que era «relativamente nova no tempo do poeta e ainda não se cumpriu totalmente nos nossos dias».

«Acredito que a maior interpelação que Camões dirige ao nosso tempo seja mesmo essa. Até que ponto alcançámos já o sentimento de pertença universal que transparece no final de “Os Lusíadas”, quanto Tétis [divindade da mitologia grega] mostra ao Gama o mundo então desconhecido?», questionou.

Para o comissário-geral, «já não é apenas o descobrir do caminho marítimo para a Índia», Vasco da Gama, a ser «contemplado com essa revelação», mas sim «o ser humano em geral que, para além dos “olhos mortais”, descobre que o mundo é bem mais vasto do que julgava».

«Será possível incorporar estas e outras ideias na maneira como se ensinam “Os Lusíadas” na escola? Não tenho certezas. Sei, pelo menos, que podemos e devemos contribuir para que esse debate ocorra», defendeu.

Comemorações com orçamento de 2,2 milhões de euros no próximo ano

O programa comemorativo dos 500 anos do nascimento de Camões tem uma verba de 2,2 milhões de euros inscrita na proposta de Orçamento de Estado para 2025, mas José Augusto Bernardes espera encontrar outros apoios. «É com essa verba que teremos de contar para levar por diante o nosso programa. Não deixaremos, no entanto, de procurar outro tipo de apoios», disse à Lusa, referindo-se a instituições com «vocação mecenática». «Quando tivermos de fazer escolhas - e vamos ter de as fazer - privilegiaremos iniciativas duráveis» que «podem não ter impacto imediato, mas deixam semente de futuro», rematou

Novembro 4, 2024 . 19:45

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