Sobrecarga afeta 80% dos cuidadores informais
Ontem, Dia do Cuidador Informal, uma sessão promovida pela Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (ESEnfC) e Unidade de Cuidados na Comunidade (UCC) Norton Matos apresentou dados que não deixam nenhum profissional de saúde sossegado. Nem a comunidade, que terá de se preparar para mudanças no perfil do cuidador.
A sessão comemorativa, na UCC Norton de Matos, incluiu a apresentação de resultados preliminares de um diagnóstico de situação dos cuidadores informais de pessoas com demência, efetuado pelo projeto C2C - Capacity to Care (Cuidadores informais - Capacitar, para cuidar de pessoas com demência), liderado pela ESEnfC.
O estudo, que incidiu sobre 30 cuidadores de pessoas com demência seguidas na UCC, revela, desde logo, um dado extraordinário: 13,3% dos cuidadores têm mais de 81 anos. Os dados preliminares, apresentados por Isabella Franco, estudante de mestrado na ESEnfC e membro do projeto C2C, indicam que 36,7% têm entre 51 e 60 anos ou 33,3% está acima dos 61 anos. Maioritariamente (76,7%) são mulheres cuidadoras. Nenhum tinha estatuto de cuidador.
Das entrevistas, em que foram analisados vários fatores, sobressaiu «a sobrecarga intensa» em 80% dos cuidadores. Há sofrimento, assinalou Isabella Franco, porque muitos têm filhos, cônjuges, trabalham. «É uma carga muito grande para uma pessoa só», disse, ao notar que há também dificuldades frequentes em como lidar ou reagir perante fases diferentes da doença.
Um outro trabalho nesta área, um programa já com implementação no terreno em Unidades Locais de Saúde, foi apresentado por Lia Sousa, professora na Escola Superior de Saúde Vale do Ave. O “(Es)Tar com a Demência” é um programa psicoeducativo para capacitação do familiar cuidador de pessoas com demência, dotando-o de conhecimentos e habilidades para desempenhar as suas funções diárias.
Antes de descrever o processo que levou à validação do programa, Lia Sousa notou que Portugal está mal nesta área - nem uma linha no Orçamento de Estado – e que, com o envelhecimento da população e filhos cada vez mais tarde, o perfil do cuidador vai mudar. Brevemente, perspetivou, pessoas com 30 e 40 anos terão de cuidar dos pais. A demência é a 7.ª causa de morte e uma das principais de incapacidade, havendo 50 milhões de pessoas com a doença e surgem 10 milhões de casos por ano, contextualizou, ao notar, ainda, que 50% dos custos globais da doença são atribuídos ao cuidador informal. Mas o «serviço inestimável» que prestam, até pelas verbas que poupam ao Estado, não é reconhecido.
Na sessão comemorativa participaram ainda Rosa Cândida Melo, docente da ESEnfC e investigadora responsável do projeto C2C, a cuidadora informal Maria Vilar Matias e a psicóloga Fernanda Rodrigues.