Cemitério da Conchada é “museu a céu aberto”
Além das questões sentimentais que unem as pessoas aos cemitérios, o da Conchada é um autêntico “museu a céu aberto”, com informações relevantes, em múltiplas dimensões, sobre a evolução da sociedade de Coimbra. Sinais e artigos, despercebidos à maioria dos visitantes, desvendam a vida dos falecidos, ligações à cultura, capacidades económicas, ou de fé, e de caminho feito na própria cidade, entre outros na arte da cantonaria e do ferro.
Inaugurado em 1860, é conhecido por edifícios funerários de notável qualidade arquitetónica, que, desde logo, originaram novas atividades comerciais, nas artes da pedra e do ferro. Em visita ontem conduzida por João Santos Costa viajou-se, em contextualização rápida, à origem do cemitério, que foi sendo adiado pela Câmara de Coimbra apesar de lei (reinado de D. Maria II) que obrigava à construção.
Era, no entanto, inevitável. As sepulturas em frente à Igreja de Santiago, «umas em cima de outras», esgotavam o espaço e os cães, dizia a imprensa da época, esgravatavam e colocavam à vista os mortos, criando um problema de saúde pública. Liberais, republicanos e membros da maçonaria, sensíveis a estas questões, faziam pressão para construção do cemitério. Sem dinheiro, e sem sucesso na imposição de taxas à igreja para sepulturas, a autarquia pediu ajuda a D. Maria II, que ofereceu o atual espaço da Penitenciária (Colégio de Tomar).
Por ali passar uma importante via de água, nomeadamente de abastecimento ao Botânico, a Universidade opôs-se, com a Câmara a leiloar o terreno. Surgiria, depois, a possibilidade de uma quinta propriedade da Misericórdia, onde foi erguido o cemitério. Dizia-se, retratou o historiador, que a terra decompunha muito bem os corpos, mas afinal não era assim.
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