560 utentes com diabetes em telesseguimento na ULS de Coimbra
A Unidade Local de Saúde (ULS) de Coimbra avançou em julho com o percurso clínico integrado (PCI) da diabetes tipo 2, uma forma de organização dos cuidados que visa criar uma jornada clínica contínua para estes doentes, abrangendo cuidados de saúde primários e diferentes serviços hospitalares. O acompanhamento de proximidade - ainda que à distância - é feito com chamadas telefónicas, mensagens de telemóvel e envio de questionários, cujas respostas podem determinar alertas e encaminhamentos precoces para consulta.
Partindo de um projeto piloto com quatro unidades de saúde familiar (USF) - Norton de Matos, Manuel Cunha e Mondego, em Coimbra, e Terras D’Ulvária, de Oliveira do Hospital -, o PCI tem já 560 pessoas em telesseguimento, mas o objetivo, até ao final do próximo ano, é chegar às mais de 37 mil pessoas com diabetes tipo 2 que a ULS estima precisarem de acompanhamento próximo. «Queremos abranger todas as pessoas com diabetes tipo 2, o que representa 90% das pessoas com diabetes, porque sabemos que a intervenção precoce é a forma de prevenir morbilidades e complicações, melhorando resultados em saúde», garantiu Miguel Melo, coordenador da Unidade Funcional do PCI da Diabetes tipo 2.
O médico endocrinologista fala de «uma grande mudança de paradigma» na forma como são seguidos os doentes. «As pessoas com diabetes são, a maior parte do tempo, médicas, enfermeiras e cuidadoras delas próprias e, como tal, precisam de acompanhamento constante. Até aqui não tínhamos tecnologias de informação e recursos que nos permitissem esse acompanhamento, mas o PCI veio alterar isso», disse aos jornalistas, a propósito do Dia Mundial da Diabetes, que hoje se assinala.
«Desde o seu diagnóstico, e durante toda a jornada clínica na ULS, o doente é acompanhado na sua doença crónica e eventuais complicações pelo médico de família, mas como integração de especialidades hospitalares envolvidas no cuidado ao utente com diabetes: endocrinologia, medicina interna, oftalmologia, nefrologia, ortopedia, cirurgia, nutrição e ainda a parte da assistência social e da psicologia», explicou Iva Pimentel, médica na USF Norton de Matos e coordenadora do grupo de trabalho que desenhou o PCI da diabetes.
Acompanhar de forma mais próxima, promover o auto-cuidado e intervir precocemente, de forma a evitar as complicações da diabetes, agravamentos e idas às urgências são objetivos deste que foi o primeiro PCI a arrancar na ULS de Coimbra. Entretanto, foram já criados PCI para as doenças respiratórias e para a insuficiência cardíaca.
Miguel Melo lembrou que a prevalência de diabetes em Portugal aproxima-se já dos 12% - devido ao envelhecimento da população e aos hábitos de vida - e que a ULS de Coimbra soma o desafio de ser a maior do país, com 21 concelhos em cerca de oito mil metros quadrados de área geográfica. «Com o PCI, pelo menos de forma parcial, conseguimos mitigar o afastamento das áreas geográficas mais periféricas», sublinha.
O coordenador da unidade funcional do PCI da diabetes tipo 2 - inovadora a nível nacional - adianta que, com implementação destes percursos clínicos, serão criadas cinco unidades de proximidade espalhadas na área de influência da ULS de Coimbra que, entre outras ações de avaliação e monitorização, farão um rastreio mais diferenciado de problemas do foro da oftalmologia, como a retinopatia diabética. O objetivo é «identificar precocemente as pessoas que realmente precisam de intervenção e fazer com que cheguem mais depressa ao hospital para tratamento», realçou.
Coimbra e Cantanhede são dois locais já definidos para instalar duas destas unidades, sendo que as restantes, em local a definir, deverão ficar distribuídas geograficamente de forma a permitir uma maior proximidade física a um máximo número de pessoas com diabetes tipo 2.