Luís Miguel Cintra: "Uma sessão como a de hoje sabe-me a voltar atrás no tempo"
«Estou mesmo comovida, sabes? Faz de conta que estamos aqui só nós os dois. Aquilo que conta para mim és tu». Com palavras de carinho e admiração, a atriz Isabel Ruth entregou a Luís Miguel Cintra a distinção relativa à homenagem que o Festival Caminhos do Cinema Português quis prestar ao ator e encenador no arranque da 30.ª edição.
Confessando-se emocionado, Luís Miguel Cintra, que padece de uma doença progressiva, foi claro: «A minha carreira de ator de cinema ou teatro acabou. E mesmo de direção é quase impossível».
«Não esperem que eu agora vá fazer mais coisas», gracejou, perante a plateia que encheu o Teatro da Cerca de São Bernardo. «Uma sessão como a de hoje sabe-me a voltar atrás no tempo», continuou, confessando-se «emocionado» pelo reconhecimento do festival.
«Por ter uma doença progressiva, vi-me livre de ser obrigado a não fazer por não gostar», adiantou, ao revelar a razão por que deixou de viver em Lisboa e se mudou para o Porto. «Estou mais comigo próprio, a conhecer o mundo que não conhecia. E isso interessa-me, porque estou vivo. Em Lisboa, estaria, provavelmente, a requentar a sopa que já estava muito fria», frisou, alertando ainda que «a gente não leva nada consigo depois de morrer...mas deixa».
A abrir a cerimónia, Tiago Santos realçou que «a homenagem não se cinge a hoje e agora». Para além do ciclo co-programado, com a exibição da cópia restaurada de “A ilha dos Amores”, haverá o testemunho pessoal da filmografia de Luís Miguel Cintra que se materializará na forma de livro, revelou.
Recordando os vários nomes que fizeram o festival ao longo de 30 edições, Tiago Santos salientou que «a qualidade» da programação deste ano «é o reflexo de uma herança, de uma estrutura sofrida que tudo o que pôde fez para resistir às adversidades do tempo, das políticas, da precariedade, da falta de meios e da carência de motivação para esta missão maior».
Sobre as políticas de divulgação do cinema, é claro: «É preciso que em Lisboa se faça muito mais».|