Festival XXX Caminhos do Cinema revela pedaços de um passado desconhecido
De «O Melhor dos Mundos», por Rita Nunes, com a atriz Sara Barros Leitão, à obra de Edgar Pêra que imagina uma correspondência impossível entre Fernando Pessoa e H.P. Lovecraft, há muito para ver! E ainda podem participar numa masterclass com Bruno Caetano, o produtor de «Ice merchants» e «O Misterioso Crime do Senhor Jacinto».
Amanhã a XXX Edição do Festival Caminhos do Cinema Português, revela-nos pedaços de um passado desconhecido, leva a questionar sobre o futuro e os seus riscos, e ao mesmo tempo torna transversais histórias pessoais. O programa estende-se pelo Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV) e Casa do Cinema de Coimbra (CCC) e oferece ao público experiências cinematográficas diversificadas e a oportunidade de dialogar com realizadores e especialistas.
Seleção Ensaios no TAGV: retratos de conflito e emoção
A Seleção Ensaios no TAGV apresenta uma exploração artística envolvente que conecta retratos de conflitos internos e emoções cruas com narrativas impactantes e contemporâneas. Esta seleção desafia as fronteiras da expressão ao oferecer uma perspetiva única sobre as lutas e histórias que moldam a condição humana. O público é convidado a imergir num mundo visual e sensorial, onde cada obra cria um diálogo íntimo e de reflexão sobre as complexidades da existência, de forma a alinhar-se com a realidade pessoal e coletiva.
Às 14h30, o programa de curtas-metragens começa com um conjunto de obras que exploram temas de memória, trauma e relações interpessoais. Entre os destaques, «Ostra Negra», de João Carlos Pinto, leva o espectador numa viagem hipnótica e visceral à selva da Guiné-Bissau durante a Guerra Colonial Portuguesa, que reflete sobre a brutalidade do conflito. «Hold on for Dear Life», de Simone Fiorentino, retrata a luta de um jovem por manter a normalidade numa cidade devastada, enquanto cuida do cão e do amigo peculiar. «Playground», de Célia Caroubi, explora os perigos do mundo virtual, onde duas irmãs, ao jogarem um videojogo, enfrentam um jogador desconhecido com intenções ambíguas. Em «Birthday.mp4», de Ángela Rosales Felipe, um aniversário filmado revela tensões familiares que culminam num momento surreal e emocionalmente carregado. «Umbral», de Miguel Andrade, inspirado nas ideias de Sigmund Freud, traduz o impacto do trauma numa narrativa intensa sobre culpa e crime. «O Fecho de uma Refinaria», de Vasco Monteiro, reflete sobre o encerramento da refinaria de Matosinhos, enquanto aborda temas como a sustentabilidade e a ideia de futuro ecológico. Por fim, «Uma Crosta de Ferro», de Vasco Barbedo, narra a história de Jonas, um imigrante que enfrenta a monotonia do trabalho e a solidão da vida noturna, símbolo da opressão da vida industrial. A sessão contará com a presença de alguns realizadores, que proporcionam momentos de diálogo e troca de ideias.
Às 19h00, a tarde de convite à reflexão continua com a exibição de «O Melhor dos Mundos», de Rita Nunes, um drama futurístico passado em Lisboa, no ano de 2027, suportando-se nas hipóteses deixadas pelo Terramoto de Lisboa de 1755. Este filme explora dilemas éticos e científicos através da história de Marta, uma sismóloga, e Miguel, um oceanógrafo, que trabalham em projetos ligados a cabos submarinos que conectam Portugal Continental aos Açores e Madeira. A descoberta de dados alarmantes sobre um sismo iminente ameaça, não apenas o trabalho científico, mas também a forma como essa informação é transmitida à população. A sessão conta com a presença da investigadora Cíntia Fachada, investigadora na área da Sociologia do Risco, que irá debater, a partir dos temas abordados no filme, as catástarofes e a organização das pessoas nessas situações. Como se prepara uma população? Como se enfrenta um eventual fenómeno como um terramoto? Estas serão algumas das perguntas que tentarão ser discutidas, tendo como base o filme de Rita Nunes.