Caminhos do Cinema: Veja o que pode ver amanhã
Há vários destaques para o penúltimo dia do festival, amanhã, sexta-feira. A XXX edição do Festival Caminhos do Cinema Português exibe «On Falling», com o qual Laura Carreira venceu o prestigiado Festival de San Sebastián, tal como o importante prémio para as primeiras obras do BFI London Film Festival, valendo ainda um prémio à atriz Joana Santos no Festival de Salónica. Releva ainda a exibição de «Por Ti, Portugal, Eu Juro!», seguida de uma conversa Sofia Palma Rodrigues com Julião Soares Sousa (autor de «Amílcar Cabral (1924-1973): Vida e Morte de um Revolucionário Africano». E o mais recente filme de Catarina Vasconcelos (a criadora de «A Metamorfose dos Pássaros»), rodado na floresta do Bussaco: «Nocturno para uma floresta».
A Seleção Ensaios: Transformações Pessoais e Conflitos Internos
Com um olhar sobre a complexidade emocional, às 14h30, a Seleção Ensaios propõe um conjunto de curtas-metragens que exploram conflitos internos, transformações pessoais e interações com o mundo moderno.
«Configuration of a Threshold», de Paolo Natale, Daniel Rodríguez, Sandra del Moral Abolafia, aborda a transformação urbana através da metáfora de uma nova forma de vida que emerge nas lixeiras ilegais, explora a gentrificação, a destruição e o renascimento de cidades, assim como o impacto do ser humano na paisagem urbana. Uma sequência experimental de mistério e sombra.
«Oxímora Vida…», de Fernando Sá Machado, retrata a jornada psicótica e contraditória do vagabundo Rascal para se libertar da sua bolha de ego, provocada pela sua auto-aversão e isolamento, até se aperceber, após a sua metamorfose, que a vida é tão complicada como simples. O realizador estará presente para dialogar com o público.
Segue-se «Driving Nowhere», de Marco Pereira Campos, um road movie que reflete sobre a sinergia do hardcore e da dança e explora a alienação e desafio, com a presença do realizador.
Segue-se «Anchor», de Vilmos Péter, narra a história de GIRL, que tenta escapar da monotonia e da ansiedade enquanto procura significado e coragem para moldar o seu futuro.
«Someone, Somewhere, Thinks About This», de Silke Struck Daube, Sara Tabernero e Manuela Gutiérrez Arrieta, é um retrato intimista sobre autoimagem e os desafios da relação com o corpo e a sociedade.
Por fim, «Nuclear», de David Falcão, fala de Tristão e Luísa, um casal isolado no campo, cuja relação é testada pelo segredo que os rodeia.
Memória e Justiça: O Impacto da Guerra Colonial
Às 17 horas, é possível ver histórias de memória e justiça com «Por Ti, Portugal, Eu Juro!», uma longa-metragem de Sofia da Palma Rodrigues e Diogo Cardoso. Este documentário impactante revisita as histórias de africanos que lutaram ao lado de Portugal durante a Guerra Colonial e foram abandonados após a independência das colónias. A sessão contará com a presença da realizadora Sofia da Palma Rodrigues, da coargumentista Luciana Maruta, e do investigador Julião Soares Sousa, que promovem o debate sobre memória histórica e responsabilidade coletiva.
A Seleção Caminhos: Retratos de Transformações Pessoais
Às 19h15, a Seleção Caminhos continua com retratos e transformações pessoais e paisagens emocionais, explorados nas curtas-metragens apresentadas no TAGV.
Primeiro com «O Estado de Alma», de Sara Naves, onde a personagem acorda todos os dias com uma nova transformação física que reflete o seu estado emocional e o desafio de seguir uma rotina diária normal, em que impera o sentimento crescente de solidão. O sentimento constante de desajustado, de medo de ser visto ou sequer reparado e uma bela analogia do saber lidar com a diferença. A realizadora estará presente para partilhar insights sobre o filme.
Em «On Plains of Larger River & Woodlands», de Miguel de Jesus, aborda-se a história de jovens que vivem isolados na Tasmânia e tentam articular uma realidade que não corresponde às suas vidas e sonhos. O que resta além da memória e trauma?
E, por fim, a estreia nacional do mais recente filme de Isadora Neves Marques, depois da seleção para a Semana da Crítica em Cannes, «As Minhas Sensações São Tudo O Que Tenho Para Oferecer». O filme retrata um romance telepático mediado por tecnologia, explora conexões emocionais e o impacto de um encontro familiar significativo. São estes estranhos mundos que a realizadora nos tem vindo a apresentar, que juntam uma realidade literal com um breve pormenor que consegue tornar tudo num ambiente fantástico, surreal e quase espiritual. E se houvesse um comprimido para a telepatia?
Encerramento com «On Falling»: Desafios da Imigração e Solidão
A programação do TAGV fecha às 21h30 com o filme «On Falling», de Laura Carreira, antecipado pela exibição de “Rinha”, de Rita Pestana, com o mote – “Quando alguém decide ir embora deve ir porque deseja, não porque precisa”. Um filme sobre fuga, desajuste, sobre a luta literal e metafórica daquilo que é a partida.
«On Falling» conta a história de Aurora, uma jovem portuguesa que emigra para a Escócia, onde enfrenta os desafios de sobrevivência e isolamento numa realidade partilhada com outros imigrantes. A luta de Aurora é um poderoso retrato da solidão, de trabalho repetitivo e mecanizado como a sua vida, e das dificuldades enfrentadas pelos que procuram uma nova vida longe de casa.
Casa do Cinema de Coimbra: Talentos Emergentes com Incentivar e Cinema do Mundo
Às 15 horas, a Seleção Filmes do Mundo dá a conhecer «Cuerpo Abierto», de Ángeles Huerta, um drama sobrenatural, passado na Galiza rural, que cruza mistério, folclore e questões de identidade cultural e emocional. Um ambiente preso no fio invisível entre mortos e vivos, fazendo-nos perder por vezes: quem está morto, quem está vivo, o que é a verdade? Uma co-produção Espanhola, que conta com a participação de Victória Guerra e José Fidalgo.
Às 17h30, o Programa Incentivar revela a sessão Encontros (do cinema com a Região) com entrada livre, onde cineastas emergentes apresentam os seus projetos em pré-produção e recebem feedback de profissionais experientes. Uma excelente oportunidade para descobrir os futuros talentos do cinema português.
Mais tarde, para as 22h, a Seleção Outros Olhares programou dois filmes: «Nocturno para uma Floresta», de Catarina Vasconcelos, relata a história de monges no século XV em Portugal, que erguem um muro para isolar as mulheres de uma floresta, mas no mundo invisível, elas criam seu próprio reino, sem muros. Uma alegórica e irónica abordagem ao trabalho de Josefa d'Óbidos, no seu conhecido quadro com uma virgem Leitosa.
E «O Céu em Queda», de Carlos Ruiz, retrata um amor proibido, marcado por culpa e desejo, numa narrativa onírica que mistura paixão e sofrimento, inspirada no cinema clássico.
Para fechar o dia, o Turno da Noite mostra duas curtas de Erika Lust. «Tantra Lovers» explora o prazer sagrado e a intimidade profunda com Zaawadi e Gal, enquanto «Going Down» retrata a tensão erótica de uma fantasia de elevador entre dois colegas de escritório.
Prémios do Festival Caminhos do Cinema Português serão revelados a 23 de novembro
Atuação dos Belle Chase Hotel durante a Cerimónia de Encerramento celebra a interseção entre música e cinema
No próximo dia 23 de novembro, sábado, o Festival Caminhos do Cinema Português chega ao seu final, com uma Cerimónia de Encerramento, no Teatro Académico de Gil Vicente, a partir das 18h00, onde serão revelados os vencedores das diversas categorias,. A sessão inclui uma atuação especial dos Belle Chase Hotel, que em formato de trio acústico – JP Simões, Pedro Renato e Luís Pedro Madeira – celebram a interseção entre música e cinema com um alinhamento único que revisita a sétima arte.
Esta XXX edição do Caminhos do Cinema Português é um marco que celebra não apenas uma história de três décadas, mas sobretudo o esforço coletivo de mais de 600 pessoas que, desde 1988, têm defendido e promovido incansavelmente o cinema português. Celebração do cinema português, descobrindo novos olhares e redescobrindo clássicos, sempre com o objetivo de fortalecer os laços entre o cinema nacional e seu público. O festival está consolidado e reconhecido internacionalmente, fruto de uma herança cultural rica e de um trabalho persistente que continua a crescer e a inovar.
Este ano, num momento em que o cinema português alcança grande reconhecimento internacional mas ainda enfrenta desafios na sua apreciação pelo público nacional, o festival reafirmou a sua missão essencial: aproximar criadores e espectadores, democratizar o acesso à cultura cinematográfica e celebrar a diversidade da nossa produção fílmica,
Esta edição especial teve ainda uma homenagem a Luís Miguel Cintra, figura incontornável do teatro e cinema portugueses, com a atribuição do Prémio Ethos.