Vitorino Nemésio volta a Coimbra para conquistar novos talentos literários
«Coimbra, que tanto deu a Vitorino Nemésio e dele tanto recebeu é o local perfeito para a apresentação deste prémio». Palavras do presidente da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, Luís Garcia, ontem no salão nobre da Câmara Municipal de Coimbra, onde se assistiu à apresentação do Prémio Literário Vitorino Nemésio. Uma cerimónia que se sucede a outras três, realizadas nas ilhas Terceira, Faial e São Miguel, nos Açores, as “Ilhas das Brumas” de onde era natural o escritor, e que se justifica tendo em conta o «profundo vínculo» que Vitorino Nemésio (1901-1978) tinha com a cidade, onde viveu, estudou, nasceram os seus filhos e consolidou o seu prestígio como intelectual e académico de renome. Coimbra, a cidade onde fez questão de ser sepultado, no cemitério de Santo António dos Olivais, ao som do “Aleluia”, ao invés do dobre a finados, como lembrou José Manuel Silva, presidente da Câmara de Coimbra.
Uma cerimónia plena de emoção, onde se ouviu a voz de Ana Goulart, uma açoriana que, tal como Nemésio, se enamorou por Coimbra, e cantou poemas da sua autoria. Uma cerimónia onde a única neta nascida em Coimbra, Maria Luísa (filha de Jorge, o primogénito), recordou o «avô Nemésio», sobretudo o «grande poeta, um dos maiores da literatura portuguesa», a criação da «açorianidade», destacando a sua «grande ligação à família», o seu caráter «distraído, aéreo», as visitas que fez ao filho mais velho, diplomata, em Bruxelas, Rio de Janeiro, Tours (França) ou Barcelona, ou a vivência partilhada em Lisboa, na casa da família, a “Farmacêutica”. Os quatro irmãos ficavam no mesmo quarto (apesar de a casa ter 14!), que o autor de “Mau Tempo no Canal” denominava a «coelheira», mesmo ao lado do escritório, onde, por vezes, o «avô Nemésio» tocava viola e cantava. «Era o nosso pavor. Não tinha jeito nenhum», contou, emocionada, lembrando o homem de «lágrima fácil», o «exemplo de simplicidade e de naturalidade e um mestre na cultura de afetos».
«É uma honra este prémio», afirmou Luísa Nemésio. «Ele merece!», disse, sem falsas modéstias, lembrando que Vitorino Nemésio «é um escritor universal», que deu aulas em França, em Bruxelas, no Brasil e apenas foi agraciado com o Prémio Montaigne. Uma cerimónia onde o escritor afirmou que «a carta de cidadania é importante para certas coisas, mas também se passa sem essas coisas. Sem pão e sem verdade é que não!», recordou a neta.
Luís Garcia, presidente da Assembleia Legislativa dos Açores - que aprovou, em setembro, a instituição do Prémio Literário Vitorino Nemésio - lembrou o escritor e a sua relação especial com Coimbra, onde «pensou, viveu e criou», «consolidou o seu pensamento crítico», mantendo sempre uma relação com os seus pares, açorianos. «Um homem de pensamento livre» e empenhado na «procura da verdade», que partilhava com António Sérgio o ideal de «guerra às ideias e paz aos homens». Razões que justificaram a escolha de Coimbra para o lançamento nacional do prémio, que pretende, sublinhou, ser uma «homenagem ao autor do programa “Se bem me lembro”, transmitido pela RTP, e «à sua paixão pela escrita» e «contribuir para a perenidade» do nome e da obra de Vitorino Nemésio. Mas o prémio é, também, «um convite a todos os que têm esta paixão literária» e «uma oportunidade para dar voz a novos autores» dos Açores, do país e do mundo lusófono. O objetivo da Assembleia Legislativa dos Açores é que este prémio «seja uma marca duradoura na literatura lusofonia», rematou