Violência doméstica deve ter campanhas permanentes e ser lecionado em Cidadania
Em entrevista à Lusa no âmbito do Dia Internacional da Eliminação da Violência contra as Mulheres, que se assinala a 25 de novembro, a investigadora e ex-secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade, diz que é essencial «apostar massivamente em campanhas de divulgação e disseminação dos apoios e desconstrução da ideia de que não existem respostas e de que existe uma impunidade e que não adianta ir procurar ajuda».
Rosa Monteiro, investigadora em políticas públicas de apoio às vítimas de violência e docente na Faculdade de Economia da Universidade Coimbra diz que o tema da violência sexual e violência no namoro é «absolutamente urgente e fundamental» ser trabalhado na disciplina de Cidadania nas escolas porque os casos de «violação e violência no namoro estão a aumentar em Portugal».
«É fundamental começar a trabalhar na educação para a igualdade, para a dignidade, para os Direitos Humanos e para a não violência desde tenras idades. Temos, e todos os anos é assinalado, verificado que nas escolas portuguesas (…), os jovens e as jovens continuam a ter ideias e conceções completamente erradas do que é que é o namoro, do que é que são relações de intimidade protegidas, seguras, confiantes, com dignidade», alerta a especialista.
A investigadora do Centro de Estudos Sociais da Faculdade de Economia considera que o tema da violência doméstica esteve na agenda política até 2022, na sequência de um «conjunto de homicídios no início de 2019» e também por causa da pandemia da covid-19 e do risco mais intensificado das situações de violência relacionada com o confinamento.
É «importantíssimo falar do tema para que ele não caia no esquecimento», asseverou, lamentando que nos últimos dois anos o tema da violência doméstica tenha sido esquecido e que nem sequer haja uma campanha em 2024 a alertar para a problemática.
Rosa Monteiro lamenta ainda que o tema pareça estar esquecido.
A violência contra as mulheres deve ser uma responsabilidade coletiva e por isso deve «haver campanhas permanentes de informação acerca de respostas existentes em todo o país», disse.
«Ainda há muitas pessoas que não sabem onde se dirigir em casos de violência doméstica» e, por isso, é fulcral continuar a apostar na divulgação da existência das estruturas de acolhimento (casas de abrigo e de emergência), mas também nas equipas de atendimento especializadas que trabalham em rede, com forças de segurança, justiça, saúde e educação».
Ainda sobre a problemática da violência no namoro, Rosa Monteiro avisa é preciso intervir através da educação. «Se não se intervier na Educação para a Cidadania e na Cidadania e Desenvolvimento na vida adulta é muito mais difícil verificar alteração de comportamentos. A educação é a raiz, é fundamental e isto não tem nada de ideológico», concluiu.
O Observatório das Mulheres Assassinadas da União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR) anunciou esta semana 25 mulheres assassinadas em Portugal entre janeiro e 15 de novembro deste ano, das quais 20 femicídios.