Marcelo lembra tempos de compromissos com Guterres e Sampaio
O chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, lembrou hoje os tempos em que liderava o PSD, Guterres era primeiro-ministro, Jorge Sampaio Presidente da República e fizeram compromissos "sobre tudo o que era essencial para o país".
"E Sampaio lá estava, a construir as pontes. Foi a sua vida", elogiou Marcelo Rebelo de Sousa, numa sessão de homenagem ao antigo Presidente da República inserida no 10.º Fórum Global da Aliança das Civilizações da Organização das Nações Unidas (ONU), no Centro de Congressos do Estoril, no concelho de Cascais, distrito de Lisboa.
Jorge Sampaio foi o primeiro alto representante da ONU para a Aliança das Civilizações, entre 2007 e 2013.
Numa intervenção em inglês, Marcelo Rebelo de Sousa referiu que Sampaio "fez a primeira, maior coligação de esquerda" para a presidência da Câmara Municipal de Lisboa, entre PS, PCP, MDP/CDE e PEV, nas eleições autárquicas de dezembro de 1989, em que o derrotou.
"Derrotou-me. Éramos amigos próximos, muito próximos, mas acontece na política", comentou. Nessa altura, foi candidato com uma aliança à direita, entre PSD, CDS e PPM, e ficou como vereador da oposição na Câmara de Lisboa.
Depois, o chefe de Estado falou sobre a sua amizade com António Guterres, agora secretário-geral da ONU, presente neste fórum, referindo que coincidiram, respetivamente, como líder do maior partido da oposição e primeiro-ministro, na segunda metade da década de 1990, quando Sampaio era Presidente da República.
"Os três amigos, por acaso, trabalhavam juntos. E fizemos os compromissos e os acordos sobre tudo o que era essencial para o país. E lá estava Sampaio, a construir as pontes. Foi a sua vida", afirmou.
No período em que liderou o PSD, entre 1996 e 1999, Marcelo Rebelo de Sousa viabilizou três orçamentos do executivo chefiado por Guterres e fez com o PS uma revisão constitucional.
Neste discurso, acrescentou que, anos mais tarde, era ele Presidente da República quando Guterres se tornou secretário-geral da ONU, em 2017, o que considerou demonstrativo de como Portugal "é um país democrático", suscitando palmas da assistência.
O Presidente da República descreveu Sampaio como alguém que "até ao último minuto esteve a pensar no mundo, nos outros, em como servir os outros".
"É assim que realmente o recordamos, a nossa memória de Jorge Sampaio é esta: alguém que, com a possibilidade de ter uma vida abastada, tranquila, privilegiada, decidiu prescindir disso e servir os outros. Nós, portugueses, nós, Portugal, nunca, nunca o esqueceremos. Obrigado", concluiu.
O antigo Presidente da República Jorge Sampaio morreu em 10 de setembro de 2021, aos 81 anos.
Foi um dos protagonistas da crise académica do início dos anos 60, que gerou um longo e generalizado movimento de contestação estudantil ao Estado Novo, e como advogado defendeu presos políticos durante a ditadura.
Depois do 25 de Abril de 1974, foi secretário-geral do PS (1989-1992), presidente da Câmara Municipal de Lisboa (1990-1995) e Presidente da República (1996-2006).
Após a passagem pela Presidência da República, Sampaio foi nomeado em 2006 pelo secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) enviado especial para a Luta contra a Tuberculose e, entre 2007 e 2013, foi alto representante da ONU para a Aliança das Civilizações.
Presidia à Plataforma Global de Assistência Académica de Emergência a Estudantes Sírios, que fundou em 2013 para dar ajudar a resposta à emergência académica que o conflito na Síria criara, deixando milhares de jovens sem acesso à educação.