Educar pelos pares para prevenir a infeções pelo VIH e SIDA
Serão poucos os jovens hoje em dia sem telemóvel e acesso facilitado à internet e redes sociais. Vivemos na era da informação. Mas fará isso com que tenhamos jovens mais bem informados em matéria de doenças sexualmente transmissíveis, em particular a infeção por VIH e a SIDA?A resposta é não.
Pelo menos é a perceção de Cristina Viegas, João Brás e Rita Silva, três professores destacados pelo Ministério de Educação para a Delegação de Coimbra da Fundação Portuguesa “A Comunidade Contra a SIDA” (FPCCSIDA) e que, nos últimos anos têm colocado em prática o Projeto Nacional de Educação pelos Pares, com sessões nas escolas do concelho de Coimbra sobre literacia e saúde.
«É uma falsa ideia a de que estes jovens têm acesso a mais informação e, portanto, estão mais informados. Há muita informação, mas, se calhar, pouca capacidade de filtrar a informação fidedigna», comentam, em entrevista do Diário de Coimbra, dada a propósito do trabalho que desenvolvem e como forma de assinalar o Dia Mundial da Luta contra a Sida, que hoje se comemora.
«Ainda nos deparamos com muitos mitos em relação aos temas que tratamos», confirmam os três professores, que desenvolvem com as escolas um projeto a três anos (iniciam com alunos de 7.º ano e acompanham-nos até o 9.º ano), com sessões que ajudam a «sensibilizar para comportamentos de risco e para a importância da prevenção», aproveitando para abordar temas relacionados com a adolescência, com o uso de substâncias psicoativas, com a sexualidade e com a gravidez na adolescência, em sessões descontraídas, mas que, para muitos, serão a única forma de alguns jovens terem acesso a este tipo de informação.
«No fundo, deixamos uma semente. A de que a prevenção é o melhor caminho», confirmam, confiantes de que o trabalho que desenvolvem junto dos jovens servirá para que possam «fazer escolhas informadas» em relação à sua sexualidade e aos comportamentos de risco. Só no ano letivo passado, foram feitas 300 sessões, em escolas de Coimbra, chegando a cerca de 1.500 alunos do 7.º ao 9.º ano, num trabalho que, como explicam, acaba por ser promovido «através do passa a palavra entre os professores» das várias escolas e que depois é formalizado em forma de protocolo com os respetivos agrupamentos.
Este projeto tem uma particularidade muito especial. É que, além dos três professores responsáveis, é levado aos mais novos através de voluntários, recrutados entre as várias instituições de Ensino Superior da cidade, valorizando a educação pelos pares, que, aliás, está na génese deste trabalho.
Como explicam os três professores, o recrutamente dos voluntários é feito junto das instituições da cidade, além da informação disponível nas redes sociais da delegação. Os interessados inscrevem-se e participam numa formação científica, ministrada por especialistas em diferentes áreas relacionadas com esta matéria. Para que possam liderar as sessões nas escolas, os interessados passam, depois, por uma formação pedagógica, da responsabilidade dos professores da Delegação de Coimbra da FPCCSIDA. Só no ano passado, foram 30 os voluntários disponíveis, confirmam.
«Tem todas as vantagens esta abordagem. São pessoas mais próximas, em termos de faixas etárias, o que faz com que os alunos fiquem mais atentos», confirmam, sublinhando ainda a vantagem, para os jovens universitários, de ficarem com mais acesso à informação.|
Sessões na prisão, centro educativo e lares
A população escolar é o público alvo do Projeto Nacional de Educação pelos Pares da Fundação Portuguesa “A Comunidade Contra a Sida”, no entanto, na Delegação de Coimbra, a funcionar no edifício do antigo BCG, em Celas, a mensagem de prevenção e da literacia em saúde chega a outros públicos. Como adiantam os três professores destacados pelo Ministério da Educação, já foram desenvolvidas sessões noutros locais e para outros públicos, como é o caso da Cadeia de Coimbra, lares de idosos ou ainda no Centro Educativo dos Olivais. «Tentamos levar a informação o mais longe possível», dizem.