Ligados às Máquinas com “Amor Dimensional” repleto de emoções
Já imaginou uma improvisação de dois minutos de Salvador Sobral, gravada ao telemóvel? E pensar que desse momento foram retirados mais de dezena e meia de samples, que ajudaram a criar “Amor Dimensional”, o primeiro álbum do grupo Ligados às Máquinas, nascido no seio da Associação de Paralisia de Cerebral de Coimbra (APCC)?
Ao excerto inédito de Salvador Sobral juntaram-se tantos outros, em voz ou em instrumentos, de diversos artistas e compositores nacionais, desde Rita Red Shoes, passando por Samuel Úria ou a Orquestra e Coro da Gulbenkian. A partir daí e com a mestria e dedicação dos Ligados às Máquinas nasceu “Amor Dimensional”, que é lançado sexta-
-feira, dia 6, pela Omnichords Records.
O Diário de Coimbra foi assistir a um ensaio do grupo, numa segunda-feira, na Quinta da Conraria e, hoje, Dia Internacional da Pessoal com Deficiência revela este amor à música de Andreia Matos, Dora Martins, Fátima Pinho, Hélia Maia, Jorge Arromba, José Miguel Morgado, Luís Capela, Mariana Brás, Pedro Falcão e Sérgio Falcão.
Vídeo: Figueiredo
A dirigi-los, o “homem do leme”, Paulo Jacob, o musicoterapeuta que, provavelmente, mais vibra ao ver como «um movimento pequenino» de cada um destes músicos consegue «fazer algo grande».
José Miguel Morgado, de 22 anos, faz parte da banda há cinco anos. É com um movimento do polegar que cria o “seu” sample. “Acordar Prá Vida” é dos seus temas preferidos dos nove que compõem o álbum, que todos divulgam com a alegria própria dos músicos quando lançam um novo trabalho.
Uma doença neurodegenerativa “atirou” com José Miguel para uma cadeira de rodas. Boa parte da infância do jovem foi passada entre brincadeiras e traquinices próprias de uma criança, mas, à medida que os anos foram passando, começaram a chegar múltiplas limitações. Se no Boccia “dá cartas”, na música não se fica atrás e é um dos rostos do Ligados às Máquinas.Tem sido muito agradável e especial para mim», conta ao Diário de Coimbra. «Dá muito trabalho, mas muito prazer», reforça.
Hélia Maia tem 35 anos e nasceu com paralisia cerebral. Também ela não esconde o entusiasmo com o novo desafio do Ligado às Máquinas. «É uma alegria imensa para mim», confessa.
Vídeo: Figueiredo
Os Ligados às Máquinas nasceram há cerca de uma década pela mão de Paulo Jacob. A ideia é que o projeto seja «um facilitador» e que não imponha «coisas às pessoas».
«Estas pessoas foram convidadas a trazer música que fosse significativa para si e a ideia seria retirar pequenas amostras de cada uma. O resultado é uma amálgama de sons de várias fontes que faz jus àquilo que é fazer música», salienta o musicoterapeuta. Tal «exige bastante em termos cognitivos, de atenção, concentração e memória», refere.
E porquê Ligados às Máquinas? A sugestão foi de Adelaide Leitão, que chegou a fazer parte do projeto e que, depois de uma estadia no hospital, onde ouviu incessantemente os sons das máquinas, pensou que seria um bom nome. E assim ficou.
Há cerca de ano e meio surgiu o desafio da Omnichords para a gravação do CD e do convite aos artistas. «A resposta foi avassaladora», refere Paulo Jacob, destacando as emoções e os afetos presentes neste “Amor Dimensional”.
Também o presidente da direção da APCC, destaca a importância do projeto.