Região Centro desafiada a abraçar Dieta Mediterrânica
Há 11 anos, no dia 4 de dezembro de 2013, a UNESCO integrava Portugal na lista de países da Dieta Mediterrânica, classificada três anos antes como Património Imaterial da Humanidade. Hoje, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC), apresentou a Agenda para a Valorização e Salvaguarda da Dieta Mediterrânica na Região Centro.
Um documento elaborado em parceria, por um conjunto de 73 entidades, repartidas por quatro grupos de trabalho, elegendo a saúde, agricultura e sistemas alimentares, território e património e turismo como áreas temáticas. O resultado é um programa-base com 20 páginas, que se pretende consolidar.
Trata-se, explicou Vanda Batista, diretora da Unidade de Desenvolvimento Rural e Agroalimentar da CCDRC, de «agregar valor e identificar e integrar novos parceiros», «definir modelos operacionais», «desenvolver estratégias», «avaliar as ações a alinhar com os instrumentos de desenvolvimento regional». Tudo com o objetivo de «estimular do desenvolvimento e o crescimento económico», conjugando «a inovação com os valores do património».
O «grande desafio» da Agenda é a «preservação deste património material e imaterial e promovê-lo», em particular «junto das gerações mais jovens», «sensibilizando-as para este património tão distinto e tão completo», sublinhou.
O logótipo, desenhado pelo grupo de trabalho, apresenta uma azeitona, um dos elementos base desta dieta, que elege o azeite, o vinho e o pão como ingredientes fundamentais, mas sempre num registo moderado. Trata-se de alimentos que acompanham a Humanidade há oito mil anos, que a Bíblica consagra num salmo, que Vanda Batista recordou: “O vinho, que alegra o coração do homem; o azeite, que lhe faz brilhar o rosto; e o pão que sustenta o seu vigor”.
«Contamos com todos para consolidar este modelo de desenvolvimento regional», disse Isabel Damasceno, presidente da CCDRC, salientando que a Dieta Mediterrânica é um «excelente exemplo de como um estilo de vida tradicional pode oferecer soluções modernas para desafios globais». Esta Agenda, disse ainda, é uma «oportunidade para aprofundar o conhecimento sobre este valioso património, promover o seu potencial enquanto elemento identitário e de valorização da região».
Património que Artur Gregório, especialista em Desenvolvimento Local Sustentável da Associação in Loco dissecou numa longa intervenção, onde definiu, em síntese, a “Díaita” Mediterrânica (na terminologia grega) como uma «estratégia de sobrevivência dos que pouco têm». E explicou, levando o auditório numa viagem pelas comunidades locais, os comerciantes, artesãos, pastores. Foi ali, na mesa destas comunidades, que nasceu este estilo de vida, assente na «sabedoria, no conhecimento, que permite o máximo aproveitamento dos recursos», na «identidade» e especificidade de cada um dos locais e na «tranquilidade», que respeita o «ritmo dos tempos, das estações, da natureza». A «sustentabilidade» e o «uso equilibrado dos recursos» são outras das caraterísticas destas comunidades, que promovem a «convivialidade» à mesa, com a alimentação a assumir o papel de «cimento social». A «atividade», o trabalho, é outro dos ingredientes desta vivência, que assenta no «consumo local e sazonal» e, por isso, favorece os «circuitos curtos», a «produção de proximidade» e tem «desperdício zero», porque tudo se aproveita. «Uma economia de sobrevivência», um «estilo de vida pobre» que se revelou, sublinhou o antropólogo, de «uma grande riqueza» em termos de qualidade de vida.