Sapadores ameaçam voltar aos protestos em janeiro se Governo não retomar negociações
O presidente do Sindicato Nacional dos Bombeiros Sapadores, Ricardo Cunha, avisou hoje que os seus associados vão regressar aos protestos em janeiro, caso o Governo não retome as negociações previstas.
“A direção reuniu e o que ficou decidido foi um voto de repúdio à posição que o Governo adotou relativamente ao cancelamento das negociações” e, “se até dia 20 não reatar as negociações, vamos voltar aos protestos no início de janeiro”, afirmou à Lusa Ricardo Cunha.
Na semana passada, o executivo suspendeu as negociações com os bombeiros sapadores, acusando-os de estarem a fazer pressão ilegítima, com um protesto que incluiu petardos, tochas e fumos junto à sede do Governo. As próximas sessões negociais estavam agendadas para 13 e 20 de dezembro.
“Não havia motivos para cancelar negociações”, disse o sindicalista, considerando que “foi uma maneira de o Governo fugir à sua responsabilidade, porque na realidade não tinha nada a apresentar” como proposta de aumentos.
Em janeiro, os sapadores querem também avançar com ações contra os “municípios que não venham a público demarcar-se da posição que o Governo tem adotado”, avisou.
Os sapadores são funcionários das autarquias mas a sua carreira é regulada pelo poder central, o que acrescenta complexidade às negociações.
“Quem tem de regulamentar, através da lei, é o Governo, a Assembleia da República. E as câmaras têm que aplicar aquilo que for legislado”, explicou Ricardo Cunha, considerando que o “Governo deveria apoiar, pelo menos em parte, algum do investimento que os municípios fazem nos bombeiros sapadores”, algo que hoje não sucede.
Por comparação, os apoios camarários às associações humanitárias são comparticipadas, salientou Ricardo Cunha, que lamenta o silêncio por parte das autarquias relativamente a esta luta sindical.
Segundo o sindicalista, “há municípios que não valorizam os bombeiros e, infelizmente, é a maioria deles, que não dão o devido valor aos bombeiros”, impondo-lhes horários excessivos ou funções não adequadas.
“É por isso é que eles estão a tentar que o Governo faça legislação no sentido de legalizar aquilo que eles já fazem que são ilegalidades”, afirmou, referindo-se à proposta de um subsídio de função que os iria obrigar a trabalhar mais 31 horas por mês, sem retribuição adicional.
As futuras ações de protesto, que não quis especificar, deverão contar com o apoio de um sindicato espanhol que já “disse que estava disposto a vir a apoiar a luta dos sapadores se fosse necessário”.
“A nossa dignidade nunca será posta em causa e já dissemos isso várias vezes” ao Governo, acrescentou o dirigente sindical, que critica a tentativa de diabolização dos associados.
“Um país sem políticos viveria tranquilamente, mas sem bombeiros eu já não sei”, afirmou, lamentando que “tentem ostracizar os bombeiros, quando na realidade ninguém adjetivou um Governo que faz uma proposta que tenta legalizar a escravatura”.
“A nós não nos vão amedrontar, não é com ameaças que vamos resolver os problemas”, concluiu ainda.
O ministro da Presidência, António Leitão Amaro, reafirmou na segunda-feira que não existem condições para voltar à mesa de negociações, recusando discutir com o sindicato sob coação e perante o que classificou de comportamentos ilegais.