Investigadores da Universidade de Coimbra exigem respostas para a precariedade
Cerca de 100 investigadores da Universidade de Coimbra (UC) manifestaram-se hoje junto à Porta Férrea, naquela cidade, e reclamaram respostas para combater a precariedade e para evitar o desemprego em que muitos irão cair nos próximos dias.
A manifestação intitulada “A UC é para Investigadores?” foi convocada por investigadores da UC, para demonstrar a falta de soluções e de estratégias para fazer face à precariedade que afeta cerca de 270 dos seus investigadores, em “situação laboral instável e sem perspetivas de integração".
Por voltas das 11h00, os investigadores começaram a juntar-se, empunhando cartazes onde se podia ler “Aqui soube que ia ser bolseira para a vida toda… Se a Deslandes fosse investigadora”, “Sabias que há investigadores que estão há mais de 20 anos na UC como precários?” e “Precária e altamente qualificada”.
Outra investigadora colocou ao pescoço um cartaz onde escreveu que é precária há 18 anos e que o início do seu desemprego tem data de 3 de janeiro de 2025.
A escassos metros, Ana Rita Álvaro dava a conhecer que estava na ciência há 21 anos, 15 deles como doutorada, tendo participado em projetos no valor de 500 mil euros e realizado 200 comunicações.
Para além de ter realizado 41 publicações, orientado 53 alunos, venceu 28 prémios, mas dentro de dias ficará em situação de desemprego e deixará estudantes de doutoramento sem orientação.
É o caso de Catarina Almeida e Bárbara Santos, que se juntaram ao protesto por não terem respostas.
“Vamos ficar sem orientação e terminar aquilo que temos”, lamentaram.
Num cartaz escrito em inglês, os investigadores ironizavam com uma lista de pedidos da UC ao Pai Natal, onde eram desejados mais turistas, em detrimento de investigadores.
Já o cartaz de Steve Catarino, investigador da área da medicina há 22 anos, 14 deles como doutorado, acusava o reitor da UC de não cumprir a lei.
“É um bocado frustrante para uma pessoa que cá trabalha durante décadas, dizerem-nos que nós não fazemos trabalho permanente e, por isso, não sou integrado na carreira”, referiu.
Steve Catarino evidenciou ainda que, para além da investigação, ainda dão aulas e orientam alunos.
“Como pode não haver reconhecimento do nosso trabalho e fingirem que nós não fazemos trabalho permanente na universidade?”, questionou.
Sobre a manifestação de hoje, disse acreditar que não vai mudar nada, porque não há vontade e porque o Governo não está a financiar.
“A solução tem de ser uma mudança: se os reitores das universidades não querem mudar, nós temos de substituir os reitores por pessoas que queiram alterar as coisas. Há mais de uma década, no caso do nosso reitor, que quer manter sempre as pessoas na precariedade”, sustentou.
Também a Federação Nacional dos Professores (Fenprof) esteve representada no protesto, lançando hoje um abaixo-assinado exigindo soluções para os investigadores precários, que pode ser subscrito por investigadores de todas as instituições.
No abaixo-assinado, que é dirigido à Assembleia da República e ao Ministério da Educação, Ciência e Inovação, os subscritores exigem soluções concretas e urgentes para os investigadores sujeitos à precariedade.
Nuno Peixinho, dirigente da Fenprof e investigador do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço da UC, é um dos muitos que irá ficar desempregado na segunda-feira.
“No dia 17 vou ao Centro de Emprego inscrever-me e vou ficar à espera dos concursos que abram por aí”, indicou.
A reitoria da UC afirmou que a situação de precariedade de investigadores na sua instituição é resultado de financiamento público insuficiente, defendendo uma reformulação do modelo e aumento das dotações.
“A Universidade de Coimbra considera que uma solução cabal para o problema do emprego científico, acumulado ao longo de décadas, transcende em muito a capacidade atual das universidades e exige uma reformulação do modelo de financiamento público com o relevante aumento das dotações atribuídas”, afirmou fonte do gabinete de comunicação da reitoria da UC.