Guerras atuais “parecem destinadas a continuar" em 2025
A organização International Crisis Group (ICG) alerta que a maioria das guerras atuais “parece destinada a continuar” em 2025, num cenário global marcado por vários conflitos profundos e duradouros que continuam a devastar diferentes regiões por todo o mundo.
Numa análise intitulada “10 Conflitos a Acompanhar em 2025”, a organização não-governamental (ONG) europeia traça o desenvolvimento das guerras em curso em diferentes coordenadas geográficas, destacando que estes conflitos neste novo ano poderão ser pontuados, por vezes, "por cessar-fogos que se mantêm até que os ventos geopolíticos mudem ou surjam outras oportunidades para eliminar adversários”.
Em 2024, o mundo viu-se mergulhado numa série de conflitos, desde a guerra na Faixa de Gaza desencadeada no ano anterior, a guerra na Ucrânia iniciada com a invasão russa em 2022, as tensões no continente asiático, onde a China procura manter o seu domínio, e ainda as graves crises que têm marcado países como o Haiti, Myanmar (antiga Birmânia) e o Sudão.
O Médio Oriente está envolto num cenário geopolítico tenso e uma situação humanitária catastrófica há mais de um ano, devido à reação em cadeia desencadeada pelo ataque do movimento islamita palestiniano Hamas ao sul de Israel, a 07 de outubro de 2023, que já provocou a morte de mais de 45 mil pessoas na Faixa de Gaza, a destruição das infraestruturas do enclave palestiniano, a degradação da rede regional de agentes não estatais (os chamados ‘proxys’) do Irão e a destruição das defesas de Teerão, segundo recorda a análise da ICG.
Para a ONG, o ataque do Hamas, que desencadeou a ofensiva israelita em Gaza, acabou também por preparar o terreno para que “os rebeldes islamitas derrubassem a ditadura de meio século da família Assad na Síria”, com a tomada de Damasco pelos rebeldes a 08 de dezembro após uma ofensiva relâmpago liderada pelo grupo islamita Organização para a Libertação do Levante (Hayat Tahrir al-Sham (HTS) e em conjunto com outras fações, que levou à deposição e fuga do Presidente Bashar al-Assad.
Segundo a organização, o "perigo imediato" na Síria passa principalmente pela "desordem" nas zonas rurais do centro e do oeste do país, mas também no noroeste, onde as tensões e os confrontos se mantêm entre as Forças Democráticas Sírias (curdas) e o Exército Nacional Sírio, treinado e financiado pela Turquia.
A nova liderança síria, de origem jihadista, tem também suscitado algum receio entre a população e apreensão por parte da comunidade internacional quanto ao respeito e integração das diferentes minorias numa Síria multiétnica e multiconfessional.
Na análise, a ICG foca também atenções no continente asiático, com a China a continuar a “disputar a sua primazia" na região contra os Estados Unidos e os seus aliados, o que tem vindo a acentuar os momentos de tensão nos “pontos críticos do Mar da China Meridional”, tal como nas regiões marítimas e aéreas em torno de Taiwan e na Península da Coreia, que se têm tornado “cada vez mais precárias”.
Sobre a Europa, a ICG aborda vários vetores, incluindo a influência do futuro inquilino da Casa Branca (presidência dos Estados Unidos) Donald Trump na guerra na Ucrânia, na NATO e na defesa do velho continente.
No documento, a ONG recorda que a invasão russa da Ucrânia em fevereiro de 2022 faz parte, segundo os argumentos apresentados pelo Presidente russo, Vladimir Putin, “de uma luta para rever os acordos pós-Guerra Fria”, o que, adverte a ICG, ameaça mergulhar a Europa “num confronto mais alargado”.
Acresce ainda que, para além de um contexto global já de si conflituoso, o regresso do Presidente eleito norte-americano, Donald Trump (toma posse a 20 de janeiro) traz “novas incertezas”, devido em parte, frisa a ICG, às suas promessas “muitas vezes contraditórias” relativamente à Europa, mas também sobre a Ásia-Pacífico e ao Médio Oriente.
Ao mesmo tempo, a ambiguidade do líder norte-americano relativamente à NATO tem vindo a abalar os países europeus, de tal forma que estes deixaram de ser “complacentes em relação à segurança do continente”.
A ONG sublinha ainda que os laços entre os adversários de Washington, especialmente a China, Rússia e o Irão, podem-se vir a reforçar entre si caso Trump intensifique a sua hostilidade em todas as frentes e sobretudo se “pressionar a Europa a reforçar as restrições comerciais à China ou incentivar a NATO a envolver-se mais na Ásia”.
Enquanto o Presidente cessante norte-americano, Joe Biden, destacou a manutenção da ordem mundial ao longo do seu mandato, Trump “vai dispensar, em grande, parte esta prioridade”, refere a análise da ICG.
Num cenário onde Israel poderá vir a anexar o território ocupado da Cisjordânia com o apoio dos Estados Unidos, ou caso Washington bombardeie unilateralmente os cartéis mexicanos, a lei internacional, já enfraquecida, “corre o risco de se desintegrar ainda mais”, sustenta a ONG.
Sobre outros conflitos e crises a ter em conta neste novo ano, a ONG destaca Myanmar – a braços com uma crise humanitária sem precedentes (mais de 3,5 milhões de deslocados) na sequência do golpe militar de 2021 que reacendeu combates entre a Junta Militar que tomou o poder e grupos étnicos armados -, mas também o Haiti, onde o poder foi tomado por bandos criminosos e milhões de haitianos vivem agora em condições de guerra.
Também mencionado é o Sudão que, frisa a ONG, tem sido palco de uma guerra civil desde 2023 que já matou dezenas de milhares de pessoas, deslocou 12 milhões de sudaneses, num país onde a população sofre de fome e onde os casos de violência sexual atingiram valores extremamente elevados.
A International Crisis Group é uma ONG fundada em 1995, com sede na Bélgica, que disponibiliza análises sobre os vários conflitos globais e é utilizada pelos decisores políticos e académicos, que conduzem investigação e análise sobre as crises mundiais.