UM FATO NOVO NÃO GERA PENSAMENTO
A mudança de ano não implica a mudança de vida, mas serve, ao menos, para que se possa imaginar que é possível dar o primeiro passo para se vencer a inércia. Quando se olha para trás, quase sempre encontramos as roupas velhas que nos serviam, algumas com memórias felizes e perfumes fora de moda. Há nestes regressos um misto de saudosismo e de reconhecimento do que já fomos dentro dessas roupas. Misturam-se os nomes e os lugares, reencontram-se algumas fotografias nos desejos da meia-noite às portas do novo ano. O ritual repete-se, é obrigatório vestir a pele do outro que vive dentro de nós por alguns instantes, mesmo que isso nos deixe angustiados no dia seguinte. A casa é a mesma, a cama está no mesmo lugar, a loiça não se lava sozinha, o cão precisa de ir à rua, o trânsito está um caos, os iluminados fecham a estação de comboios no centro da cidade, a oposição ao governo não existe, tudo parece uma procissão de aceitação e aplauso. ACORDEM! ACORDEM, POR FAVOR!
Em ano de eleições autárquicas, gostaria que Coimbra voltasse florir, que se entregassem rosas genuínas, que se recitassem poemas de Manuel Alegre nas varandas, que fosse tudo mais autêntico, sem representação ou pose, apenas verdadeiro e sem aparato
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