Milhares desceram a Almirante Reis em protesto contra a ação da PSP
Os promotores da manifestação “Não nos encostem à parede” recusaram a instrumentalização política do movimento que quer um Portugal sem racismo nem discriminação.
Nos discursos que assinalaram o final da manifestação que juntou milhares a descer a Avenida Almirante Reis, em Lisboa, os promotores destacaram o sucesso da iniciativa que representa os excluídos sociais.
A manifestação não foi apenas contra a ação policial de 19 de dezembro que visou imigrantes na Rua do Benformoso, no Martim Moniz, mas de todos os bairros periféricos de Lisboa, onde vivem os mais pobres. «O Benformoso não é apenas um, somos todos», desde o Casal da Mira ao Casal de São Brás ou à Pedreira dos Húngaros, afirmou Vânia Puma, do Coletivo Mulheres Negras Escurecidas.
«Basta ir ao Casal da Mira» e o que se passou no Benformoso «acontece todos os dias», e «não podemos nem acudir um irmão» perante a violência policial. «Não nos encostem à parede, porque fomos nós que construímos as paredes» de Portugal, afirmou Vânia Puma, comentando que «o aeroporto não funciona, o Colombo não funciona, nenhuma infraestrutura funciona sem os bairros» periféricos. «As lojas são limpas por nós. São as pretas racializadas, pobres imigrantes, [somos nós] que limpamos Portugal e querem encostar-nos à parede?», questionou a ativista.
Por seu turno, Miguel Garcia, um dos organizadores, elogiou a presença de imigrantes e portugueses lado a lado na recusa do racismo e da violência policial. «Estamos aqui a construir hoje uma nova Lisboa», em que o «amor, a solidariedade, o companheirismo e a união fazem a força», afirmou.
«Nós não nos vendemos ao populismo» e «não permitimos que Portugal seja racista», disse ainda, considerando que o dia de ontem assinalou também o «início de uma luta em paz, uma luta ordeira» por um país melhor.
No final das intervenções perante uma praça do Martim Moniz muito composta, foi a vez de participarem artistas convidados, como Nex Supremo, Luca Argel e La Familia Gitana.