Humanização da saúde no centro do debate
A advogada Filomena Girão dirigiu uma conferência-debate relativa às práticas adotadas atualmente na receção de visitas e acompanhantes a doentes nas unidades hospitalares. A iniciativa foi promovida pelo Movimento Cívico Humanizar a Saúde de Coimbra (MOVHSC), entidade de intervenção cívica constituída por pessoas desta cidade, com o objetivo de melhorar a humanização dos cuidados de saúde prestados.
Segundo a legislação publicada em Diário da República e pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS), a possibilidade de visitas e acompanhamento por familiares, responsáveis legais ou pessoa escolhida pelo doente é um direito reconhecido. Em dezembro de 2020 a Direção-Geral de Saúde (DGS) implementou as mudanças necessárias para mitigar a propagação do vírus SARS-CoV-2, mais conhecido como coronavírus, mas estas alterações temporárias mantêm-se em algumas unidades de saúde, dificultando as interações com os doentes, segundo a MOVHSC, retrocedendo assim na humanização dos serviços.
Em Coimbra, a Unidade Local de Saúde (ULS de Coimbra) prevê as visitas e acompanhamentos no Regulamento Acompanhantes e Visitas, disponível para consulta pública no seu sítio online. Neste documento é possível encontrar os horários previstos para visitas e a quantidade das mesmas, que atualmente é bastante reduzida.
«não podemos humanizar sem educar e dar cultura antes»
Educação como Pilar
Na sessão que anteontem à noite juntou no Seminário Maior de Coimbra cerca de seis dezenas de pessoas, após um pequeno momento de exposição por parte da jurista e doutorada em Bioética houve tempo para debater várias ideias, onde o central acabou por ser a «falta de literacia», tanto em médicos como em utentes, no que toca aos seus direitos e deveres.
«A avaliação [negativa] que faço do conhecimento dos doentes seria praticamente igual se fosse feita para os profissionais de saúde. É fulcral haver uma ação a curto prazo sobre esta matéria, indo às instituições para investir nesta formação. A longo prazo, é preciso tornar esta literacia um tópico nas escolas», defendeu Filomena Girão.
Na generalidade das intervenções, a falta de conhecimento sobre os seus direitos e deveres foi reconhecida pelos cidadãos e profissionais da área da saúde presentes. Para muitos, é necessário haver uma educação dedicada à saúde e para a sua legislação, de modo a «diminuir o caos habitual dos espaços de saúde», chegando um dos intervenientes a referir que «não podemos humanizar sem educar e dar cultura antes».
Avaliou-se que uma nova formação para os serviços médicos traria uma reorganização do atual espaço e da tecnologia, muitas vezes antiquada, utilizada nas salas de espera e corredores, que tornam o ambiente hospitalar «caótico» e indutor de «ansiedade».
«Existe um avanço tecnológico muito grande em várias áreas, inclusive a médica, mas os espaços destinados a receber os doentes estagnaram», observou a advogada, respondendo a uma das questões levantadas. «É necessário abrir as instituições aos utentes e perceber, através de inquéritos, por exemplo, onde melhorar. Percebemos melhor o que mudar ao ler as reclamações sem ter medo delas», afirmou.
O Sistema Nacional de Avaliação em Saúde (SINAS) já existe e tem como funcionalidade geral receber as opiniões dos utentes sobre tipologias de cuidados específicos: internamento e estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde oral. A adesão ao SINAS, porém, é de caráter facultativo, tanto para as instituições como para os utentes, dificultando a intervenção e inspeção.
Mais informações na edição de hoje do jornal.