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Milhares de deslocados regressam à Faixa de Gaza no meio de destroços mas com esperança

As armas silenciaram às 9h15, com quase três horas de atraso face ao previsto, uma vez que o Hamas se atrasou em fornecer a lista de três mulheres israelitas que seriam hoje libertadas, como exigiu Israel

Milhares de deslocados pela guerra na Faixa de Gaza voltaram para casa, no meio da destruição, no primeiro dia de um cessar-fogo entre Israel e o Hamas que prevê a libertação de reféns israelitas e prisioneiros palestinianos.

Este é o cenário constatado pelas equipas de reportagem da agência noticiosa francesa AFP na véspera do regresso do Presidente norte-americano eleito, Donald Trump, à Casa Branca.

As armas silenciaram às 9h15, com quase três horas de atraso face ao previsto, uma vez que o Hamas se atrasou em fornecer a lista de três mulheres israelitas que seriam hoje libertadas, como exigiu Israel.

De acordo com o Fórum de Famílias de Reféns, citado pela AFP, trata-se da anglo-israelita Emily Damari (de 28 anos) e da romeno-israelita Doron Steinbrecher (de 31 anos), ambas capturadas no kibutz Kfar Aza, e Romi Gonen (de 24 anos), sequestrada no festival de música Nova, durante o ataque perpetrado pelo movimento islâmico Hamas a 07 de outubro de 2023 no sul de Israel.

A entrada em vigor do acordo alimenta esperanças de uma paz duradoura no território palestiniano, mesmo que o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, já tenha avisado que as suas forças poderão voltar a pegar em armas, sublinha a AFP.

Colunas de milhares de palestianos deslocados percorrem as estradas através de uma paisagem apocalíptica de escombros para voltar para casa, muitas vezes para encontrar apenas ruínas, reporta a agência francesa.

"As nossas vidas estão destruídas. Levaremos mais de 20 anos para retornar a uma vida normal", lamenta à AFP Siria al-Arouqi, um homem de Gaza, de 52 anos, acabado de retornar a Rafah (no sul).

Em Jabalia, no extremo norte de Gaza, epicentro de uma intensa ofensiva israelita desde outubro, “não sobrou nada, tornou-se inabitável”, lamenta Walid Abou Jiab, também acabado de regressar.

Combatentes encapuzados e armados do Hamas marcharam em Deir el-Balah, no centro do pequeno território palestiniano onde a grande maioria dos 2,4 milhões de habitantes foi deslocada, testemunharam as equipas de reportagem da AFP.

Noutros lugares, a bordo de carrinhas ou a pé, alguns fazem o “V” da vitória ou agitam a bandeira palestiniana.

No intervalo entre o início previsto da trégua e a sua entrada em vigor, Israel realizou hoje ataques em Gaza, que mataram oito palestinianos, segundo a Defesa Civil local.

O Hamas justificou o atraso na exigida entrega da lista de reféns com “complicações no terreno e a continuação dos bombardeamentos”.

Assim que a lista foi comunicada, Israel anunciou a entrada em vigor do cessar-fogo às 09:15 GMT.

Anunciado na quarta-feira pelos mediadores – Qatar, Estados Unidos e Egito – o acordo visa em última instância, segundo Doha, conduzir ao “fim definitivo” da guerra, desencadeada pelo ataque do Hamas de 07 de Outubro.

Mas o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, já alertou que se tratava de “um cessar-fogo temporário” e reservou-se “o direito de retomar a guerra, se necessário”.

O seu chefe da diplomacia, Gideon Saar, também alertou para a persistência da “instabilidade regional” se o Hamas, classificado como terrorista por Israel, pelos Estados Unidos e pela União Europeia, permanecer no poder em Gaza.

Entretanto, já começaram a entrar na Faixa de Gaza centenas de camiões com ajuda alimentar para prestar auxílio aos milhares de refugiados.

Hostil à trégua, o partido do ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir (de extrema direita), anunciou abandonar a coligação de Netanyahu, que, no entanto, continua a ser a maioria no parlamento.

Nos termos do acordo para cessar as hostilidades, 33 reféns israelitas devem ser libertados, numa fase inicial de seis semanas. Três pontos de receção de reféns foram instalados na fronteira de Israel com Gaza, segundo um oficial militar citado pela AFP.

Em troca, as autoridades israelitas garantiram que libertariam cerca de 1.900 palestinianos dentro deste período, 90 dos quais deveriam ser libertados já hoje, segundo o Hamas.

Dois franco-israelenses, Ofer Kalderon, 54, e Ohad Yahalomi, 50, estão entre os 33 reféns que podem ser libertados, segundo Paris.

Em Telavive, Maya Roman, prima de um refém já libertado e de outro, Carmel Gat, que morreu no cativeiro, disse à AFP sentir “uma alegria incrível e ao mesmo tempo pesar” pelos cativos mortos em Gaza durante os meses necessários para concluir este acordo.

Entre os prisioneiros palestinos que deverão ser libertados está Zakaria al-Zoubeidi, responsável por ataques anti-israelitas e ex-líder local do braço armado do Fatah, preso em 2019.

“Não podemos descrever a nossa felicidade e esperamos que a felicidade seja a mesma para as famílias de todos os detidos”, disse à AFPTV Shukri al-Tamimi, próximo de um prisioneiro palestiniano que o espera perto da prisão desde a noite passada, na Cisjordânia ocupada.

Segundo o ainda Presidente dos EUA, Joe Biden, a primeira fase do acordo inclui também uma retirada israelita das zonas densamente povoadas de Gaza e um aumento da ajuda humanitária no território ameaçado pela fome, comprovada por relatos da ONU.

De acordo com o Egito, o acordo prevê “a entrada de 600 camiões de ajuda por dia”, sendo que “260 de ajuda e 16 de combustível” entraram pelas passagens de Kerem Shalom entre Israel e Gaza e Nitzana, na fronteira entre o Egito e Israel, desde a trégua, relatou à AFP uma autoridade egípcia.

Durante a primeira fase serão negociadas as modalidades da segunda, que deverá permitir a libertação dos últimos reféns, antes da terceira e última fase dedicada à reconstrução de Gaza e à restituição dos corpos dos reféns que morreram no cativeiro.

O ataque do Hamas de 07 de outubro de 2023 resultou na morte de 1.210 pessoas do lado israelita, a maioria delas civis, segundo uma contagem da AFP baseada em dados oficiais. Das 251 pessoas sequestradas naquele dia, 94 permanecem reféns em Gaza, incluindo 34 mortos, segundo o exército israelita.

Pelo menos 46.913 pessoas, a maioria civis, foram mortas na ofensiva retaliatória israelita em Gaza, segundo dados do Ministério da Saúde do Hamas considerados confiáveis pela ONU.

Janeiro 19, 2025 . 18:50

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