Recordar uma tragédia que há 70 anos marcou alunos e professora
15 de abril de 1953
A pacata Aldeia das Dez via um dos seus cumprir uma promessa. O cabo Alfredo José da Silva Oliveira Brito havia prometido sobrevoar a sua terra quando fosse piloto. E assim cumpriu. As manobras no céu não deixaram ninguém indiferente e, nessa manhã, todos estavam de olhos pregados nas nuvens para ver o que ali se passava.
Todavia, o que este voo teve de espetacular teve, igualmente, de trágico. Foi abruptamente interrompido após uma acrobacia, com um toque numa oliveira que levou à sua queda. O estrondo foi enorme e o susto ainda maior. Houve chamas, fumo e, naturalmente, muito pânico.
Havia obras por perto e, mesmo ali pegado, uma escola primária. Que estava repleta de alunos e com a professora Madalena Santana. Estavam todos os alunos, menos um. O Vasco, aluno do segundo ano, ouvindo o avião no céu quis vir à rua ver o que se passava. Aproveitou o pedido de beber água para ter a desculpa perfeita para sair da sala. Porém, e após o estrondo com a queda - ouvido bem longe – todos se juntaram à beira da professora Madalena, menos o Vasco Torres, na altura com 7 anos.
Após 71 anos (a caminho dos 72) depois deste trágico episódio, a professora Madalena Santana, com 94 anos, os alunos Vasco Torres, com 80 anos, e o colega Abel, de 82 anos, voltaram à sua escola – hoje extensão de saúde de Aldeia das Dez - para reviver este dia e contar histórias daquele tempo. A memória não os atraiçoou e o frio que se fez sentir naquela tarde em que todos estiveram juntos, foi rapidamente aquecido por histórias de ternura e afeto vividas há sete décadas.
«Foi um grande susto», afirmou sem hesitar a professora Madalena. Ao susto juntou-se a dificuldade em manter a classe sossegada com a atenção. «Queria que eles ouvissem o que estava a dizer para eles não se afligirem». Mas não foi fácil não ter aflição. As meninas e meninos que compunham aquela turma – mista e com ensino da primeira à quarta classe - juntaram-se todos à volta da professora, numa roda em que procuravam o abraço que não os fizesse ter medo.
Todos menos o Vasco, que tinha dito que ia à água e por isso não estava. «Foi uma preocupação acrescida porque o tinha deixado sair e ele ainda não tinha voltado e não sabíamos bem o que realmente tinha acontecido no exterior», recordou Madalena Santana. Pouco depois do que aconteceu, as mães das meninas e dos meninos que ali estudavam começaram a aproximar-se da escola. «Vinham aos gritos, em aflição para saber dos seus filhos», acrescentou. A população acorreu em grande número ao local. O que seria um dia de grande felicidade com um filho da terra a sobrevoar a aldeia terminou de forma abrupta e trágica.
Professora e aluno recordam acidente que os marcou há 70 anos
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