Pinheiro-bravo resiste em algumas zonas 25 anos após chegada do nemátodo
O nemátodo entrou em Portugal em 1999 e dizimou extensas áreas de pinhal, mas a espécie, ao contrário do que se temia, conseguiu resistir à praga em algumas zonas. A conjugação de vários fatores, humanos e naturais, permitiu a sobrevivência de importantes manchas de pinheiro-bravo ('Pinus pinaster'), com destaque para a região Centro, onde, 25 anos depois, é possível apreciar alguns pinhais de boa saúde.«Acreditei desde logo que haveria uma reação natural da espécie», disse à agência Lusa o engenheiro florestal José Pais, que trabalhava no concelho da Castanheira de Pera, distrito de Leiria, quando o nemátodo foi detetado em povoamentos de 'Pinus pinaster' da Serra da Lousã, em 2008.
Na altura, já se notava que outras resinosas, como o pinheiro-de-casquinha ('Pinus sylvestris') e o pinheiro-manso ('Pinus pinea') «não eram afetados» pela doença. «Detetámos alguns núcleos na Castanheira», recordou, para explicar que o problema incidia sobretudo nos povoamentos de pinheiro-bravo mais antigos, de monocultura ou devastados parcialmente por incêndios. Nalguns casos, «havia uma vitalidade logo ao lado, com uma reação muito positiva» das árvores jovens, segundo José Pais, que nos últimos anos tem vindo a especializar-se em atividades associadas à floresta, como os passeios micológicos e a gastronomia silvestre.
Afinal, vaticinou naquela época, «isto não vai ser aquilo que toda a gente contava que fosse. A praga continua a afetar os núcleos mais fragilizados, mas há uma capacidade da natureza de criar equilíbrios que nos estão sempre a surpreender», referiu, convicto de que «já passou a debilidade dos primeiros anos». Na natureza, salientou, «funciona tudo num harmónio muito interessante», com árvores, arbustos, vegetação rasteira e fungos em simbiose. Na sua opinião, os cogumelos «são auxiliares fantásticos para situações de aflição» que atingem os espaços naturais. Aos incêndios e perda de biodiversidade, juntaram-se as alterações climáticas, que «estão a afetar muito» os ecossistemas e equilíbrios ambientais, lamentou. “Apesar das nossas tropelias, há bons exemplares de pinheiro-bravo e ecossistemas ainda com a espécie, com algum sub-bosque e fungos”, enalteceu José Pais, que gere atualmente o Parque de Campismo de Pedrógão Grande.
Nas serranias flageladas por fogos, nemátodo e demais pragas, «devia-se apostar cada vez mais em áreas agrícolas, como o olival, sem ser extensivo e sempre em mosaico», defendeu, para recomendar ainda a aposta no sobreiral, «nas resinosas de folha miúda e numa silvopastorícia associada aos bosques». Também no concelho da Lousã, distrito de Coimbra, «houve uma grande mancha de pinheiro-bravo que acabou por secar» nos baldios da Boavista e do Braçal. «Uma área de 30% do nosso pinhal foi bastante afetada», o que abriu caminho à propagação de acácias e outras espécies invasoras, «prejudicial à paisagem e ao ecossistema», revelou à Lusa o presidente do conselho diretivo dos Baldios de Serpins, Jorge Baeta. Nos 1.200 hectares de baldios da freguesia, «os prejuízos são dificilmente contabilizáveis, mas o preço da madeira atacada pela decresceu imenso», acentuou. Nas zonas contaminadas que «não tiveram posterior intervenção, surgiram essencialmente invasoras. No Braçal, muito atacado, o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) fez uma reflorestação com pinheiro-manso e sobreiro. Foi um trabalho relativamente bem feito, mas insuficiente», segundo Jorge Baeta,