Consumo de álcool nas prisões aumentou para 31,4% em 2023
O consumo de bebidas alcoólicas nas prisões aumentou para 31,4% em 2023, quase o dobro face a 2014 (17,9%), revela um inquérito oficial hoje divulgado, que destaca também o crescimento do uso de drogas sintéticas.
Mais de 35% dos consumidores de bebidas alcoólicas declaram consumir diariamente ou quase diariamente, registando-se uma diminuição do consumo diário de cerveja e vinho, mas um aumento de bebidas espirituosas e outras bebidas face a 2014, refere o Relatório Preliminar do Inquérito Nacional Sobre Comportamentos Aditivos em Meio Prisional 2023, promovido pelo Instituto para os Comportamentos Aditivos e as Dependências (ICAD).
Por outro lado, observou-se um aumento do consumo menos frequente, de um a três dias por mês, para a cerveja, vinho e bebidas espirituosas, refere o estudo que definiu como selecionáveis para inquirição 3.171 reclusos, que representa 27,1%, de um total de 11.705.
Relativamente ao consumo de substâncias ilícitas nas prisões foi observada “uma tendência de decréscimo face ao pico verificado em 2014”, realçam os resultados do inquérito que visou conhecer melhor e analisar tendências sobre os comportamentos aditivos e dependências em ambiente prisional de forma a definir políticas e estratégias de saúde e dimensionar recursos adequados às necessidades de saúde no sistema prisional.
Em 2023, 63,4% dos reclusos inquiridos indicaram já ter consumido substâncias ilícitas em algum momento da vida, sendo este valor similar ao verificado em 2007 (63,6%) e abaixo dos 69,1% registados no estudo de 2014.
Segundo o ICAD, este declínio pode ser atribuído “a uma série de fatores, incluindo programas de reabilitação mais eficazes, maior vigilância dentro das prisões e mudanças nas dinâmicas de consumo de drogas na população em geral ou mesmo uma mudança no perfil dos reclusos”.
A canábis continua a ser a droga mais consumida (51,4%), mas com tendência decrescente (-4,1 p.p. face a 2014), o que “pode refletir uma mudança nas preferências de drogas”.
Outras substâncias com alta prevalência de consumo incluem cocaína (branca), com 33,6% dos reclusos a relatarem o uso ao longo da vida, cocaína (crack/base) com 25,7%, heroína (21,3%), e ‘ecstasy’ (20,6%).
“As novas drogas sintéticas a imitar o efeito de drogas ilícitas apesar de ainda terem uma prevalência baixa, têm vindo a crescer de forma relevante”, refere o relatório, destacando também o facto de “7,9% referirem o consumo de metanfetaminas, substância cuja análise em 2014 não foi individualizada e que agora assume um valor já relevante”.
Quanto a práticas de jogo a dinheiro na prisão no último ano, 91,9% dos inquiridos declara não o ter feito nem em troca de outros bens ou serviços.
Sobre o tipo de crimes pelos quais foram condenados os inquiridos, mantêm-se os relacionados com o tráfico de drogas (29,6%), roubo (20,7%) e furto.
O relatório realça o crescimento de crimes de violência doméstica (+7,6 p.p.), crimes sexuais (+5% p.p.) e ofensas à integridade física (+2,9 p.p.).
O ICAD salienta “a necessidade de continuar a desenvolver e implementar programas eficazes de prevenção e tratamento de dependências dentro das prisões e o desenvolvimento de mais esforços para apoiar a reintegração social dos reclusos”.
Em sentido inverso, diminuiu o peso dos que foram detidos por crimes relacionados com roubo ou furto, 8,2 p.p. e 6,2 p.p., respetivamente.
“A recolha contínua de dados e a realização de estudos periódicos são considerados essenciais para monitorizar as tendências de consumo de drogas nas prisões e avaliar o impacto das intervenções implementadas”, defende.