Figueira dos Amores pode vir a ser a Árvore Europeia do Ano 2025
Plantada no século XIX na Quinta das Lágrimas, mesmo ao lado da Fonte dos Amores, a Figueira da Austrália tem agora mais de um século de vida e uma dimensão majestosa. As grandes raízes que brotam do chão e se espalham pelo solo - servem essencialmente para sustentar o tronco e os ramos - são uma das imagens mais características desta espécie.
Contudo, é principalmente o seu contexto cultural e histórico que tornou esta árvore tão especial em Coimbra. Desde logo, porque foi plantada na Quinta das Lágrimas, uma propriedade com uma história de sete séculos, e o local escolhido foi junto à Fonte dos Amores, explicou Cristina Castel-Branco, arquiteta paisagística e historiadora de jardins históricos, em conversa com o Diário de Coimbra.
Mas a história começa bem antes com a Rainha Santa Isabel a mandar construir aquela que é hoje conhecida por Fonte dos Amores. «Existe um texto da Rainha Santa que diz assim: “Que se faça um muro de pedra, uma leira de terra para se semear, uma fonte que leve a água para o Convento e um caminho para ir, vir e estar”», contou. É assim que surge, primeiramente, o «conceito de jardim» para lazer. Mais tarde, aquele local passou a ser local de encontro entre Pedro e Inês, um amor proibido que teve o seu desfecho trágico junto à Fonte dos Amores.
E qual é a ligação à Figueira dos Amores? «Desde logo, porque aqui existe uma abundância de água, fundamental para alimentar estas raízes. Falamos de uma espécie subtropical e, por isso, precisa de calor e água», explicou. Foi exatamente isso que a figueira, também comumente conhecida por figueira-estranguladora, encontrou naquele local.
Aliás, se a árvore de grande porte continuasse a crescer sem qualquer ordenamento a dimensão da copa seria estrondosa e as raízes já teriam destruído o muro lateral, o canal e a fonte. Esse trabalho de “controlar” o crescimento da árvore com dezenas de metros é da responsabilidade de Francisco Coimbra, apelidado de “cirúrgião de árvores”. «Devido às suas raízes aéreas esta espécie tem um impacto enorme na sua envolvência, por isso, é conhecida por estraguladora», esclareceu o biológo, acrescentando que «algumas sementes podem germinar no topo de outras árvores e as raízes áreas quando enraizadas estrangulam-nas».
"Existe um texto da Rainha Santa que diz assim: “Que se faça um muro de pedra, uma leira de terra para se semear, uma fonte que leve a água para o Convento e um caminho para ir, vir e estar"
Se na natureza esta espécie pode crescer desmesuradamente, já em meio urbano e com uma envolvência patrimonial é «preciso fazê-la coabitar», defendeu o biológo.
«A atenção aos jardins históricos e às arvores como património é uma peça importante da nossa cultura e que está muito esquecida», afirmou Cristina Castel-Branco. Sendo assim, a distinção como Árvore do Ano e a entrada em votação como Árvore Europeia do Ano é um marco importante para que se olhe para o património histórico de uma outra forma.
A votação está a decorrer no site www.treeoftheyear.org/vote até ao próximo dia 24 de fevereiro.