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Figueira dos Amores pode vir a ser a Árvore Europeia do Ano 2025

Depois de ser eleita Árvore do Ano em Portugal, a espécie que vive na Quinta das Lágrimas está a concorrer ao lado de outras 14 árvores europeias. As votações já estão a decorrer e pode ajudar para que seja a Figueira dos Amores a ganhar o galardão

Plantada no século XIX na Quinta das Lágrimas, mesmo ao lado da Fonte dos Amores, a Figueira da Austrália tem agora mais de um século de vida e uma dimensão majestosa. As grandes raízes que brotam do chão e se espalham pelo solo - servem essencialmente para sustentar o tronco e os ramos - são uma das imagens mais características des­ta espécie.

Contudo, é principalmente o seu contexto cultural e histórico que tornou esta árvore tão especial em Coimbra. Desde logo, porque foi plantada na Quinta das Lágrimas, uma propriedade com uma história de sete séculos, e o local escolhido foi junto à Fonte dos Amores, explicou Cristina Castel-Branco, arquiteta paisagística e historiadora de jardins históricos, em conversa com o Diário de Coimbra.

Árvore Europeia Do Ano 2025 Fig 54 T
Figueira dos Amores tem mais de 100 anos | Figueiredo

Mas a história começa bem antes com a Rainha Santa Isabel a mandar construir aquela que é hoje conhecida por Fonte dos Amores. «Existe um texto da Rainha Santa que diz assim: “Que se faça um muro de pedra, uma leira de terra para se semear, uma fonte que leve a água para o Convento e um caminho para ir, vir e estar”», contou. É assim que surge, primeiramente, o «conceito de jardim» para lazer. Mais tarde, aquele local passou a ser local de encontro entre Pedro e Inês, um amor proibido que teve o seu desfecho trágico junto à Fonte dos Amores.

E qual é a ligação à Figueira dos Amores? «Desde logo, porque aqui existe uma abundância de água, fundamental para alimentar estas raízes. Falamos de uma espécie subtropical e, por isso, precisa de calor e água», explicou. Foi exatamente isso que a figueira, também comumente conhecida por figueira-estranguladora, encontrou naquele local.

Aliás, se a árvore de grande porte continuasse a crescer sem qualquer ordenamento a dimensão da copa seria estrondosa e as raízes já teriam destruído o muro lateral, o canal e a fonte. Esse trabalho de “controlar” o crescimento da árvore com dezenas de metros é da responsabilidade de Francisco Coimbra, apelidado de “cirúrgião de árvores”. «Devido às suas raízes aéreas esta espécie tem um impacto enorme na sua envolvência, por isso, é conhecida por estraguladora», esclareceu o biológo, acrescentando que «algumas sementes podem germinar no topo de outras árvores e as raízes áreas quando enraizadas estrangulam-nas».

"Existe um texto da Rainha Santa que diz assim: “Que se faça um muro de pedra, uma leira de terra para se semear, uma fonte que leve a água para o Convento e um caminho para ir, vir e estar"

Se na natureza esta espécie pode crescer desmesuradamente, já em meio urbano e com uma envolvência patrimonial é «preciso fazê-la coabitar», defendeu o biológo.

«A atenção aos jardins históricos e às arvores como património é uma peça importante da nossa cultura e que está muito esquecida», afirmou Cristina Castel-Branco. Sendo assim, a distinção como Árvore do Ano e a entrada em votação como Árvore Europeia do Ano é um marco importante para que se olhe para o património histórico de uma outra forma.

A votação está a decorrer no site www.treeoftheyear.org/vote até ao próximo dia 24 de fevereiro.

Cristina Castel-Branco e Francisco Coimbra falam sobre esta espécie

Fevereiro 4, 2025 . 16:14

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