Álvaro dos Santos festejou cem anos com duas festas
Álvaro Gomes dos Santos, natural da Póvoa do Garção, no concelho da Mealhada, nasceu a 26 de janeiro de 1925, mas só foi registado, a 3 de março desse mesmo ano, um procedimento normal à época. O que é certo é que o seu centenário não foi esquecido, muito pelo contrário, e contou com dois dias de festa: um em família, promovida pelos filhos; outro na Associação Desportiva Cultural e Recreativa de Antes, onde o aniversariante está institucionalizado no Centro de Dia e que considera também «estar em família».
Batiam as 16h30 de um dia normal de semana e encontrámos Álvaro Santos, junto da esposa Maria Seabra, a ver televisão numa das salas da ADCRA. Recebeu-nos com um rasgado sorriso e respondeu a tudo aquilo que fomos perguntando sobre os seus cem anos de vida.
«Comecei a trabalhar com sete, oito anos, com o meu pai e irmão, no milho e batatas. Tocava o “boi a engenho” para regar a horta», começou por nos dizer sobre um engenho de rega muito usado em tempos passados. «Depois, já mais velho, comecei a levar pipas de vinho e carregos de cal e madeira para Aveiro, Esgueira e Águeda. Tudo puxado a bois. Demorava entre dois a três dias, fizesse chuva ou fizesse sol», continuou o recém aniversariante, recordando «as imensas “molhas”» que isto lhe trouxe até se tornar somentAos 31 anos casa-se com Maria de Jesus Seabra, na altura com 18 anos, residente em Arinhos. «Ainda vivemos aqui uns anos, mas depois compramos um terreno na Póvoa do Garção e construímos umas casas», diz-nos, revelando que o casal teve três filhos, dois deles atualmente com 60 e 68 anos, e um outro que faleceu, de acidente de mota, há 37 anos, «tinha na altura 29».
As agruras da vida não fizeram com que este casal parasse por um bocado. «Até há um ano estávamos em casa, semeávamos couves e batatas, e as senhoras do lar só nos iam levar a comida. Depois é que a mobilidade passou a não ser a mesma, já nos têm que a ajudar a vestir, e tivemos que vir para aqui», conta Maria de Jesus Seabra, de 88 anos, explicando que saem de casa às 9h30 e chegam por volta das 18h30 «já jantados» e que, por isso, «é só deitar e dormir». «Aos sábados e domingos levam-nos as refeições», complementa.
Álvaro dos Santos elogia a comida. «Aqui é tudo maravilhoso, mas o melhor é mesmo a comida», elogia, referindo que os dias são passados «a ver televisão, a conversar e às vezes damos um passeio no jardim da instituição».
Com cem anos, o aniversariante pode congratular-se de apenas tomar um comprimido por dia «e de estar muito bem, tendo em conta que, ainda há pouco tempo, estive internado em Coimbra com uma pneumonia». «Nem de bengala ele precisa», interpela a esposa.
No aniversário a família juntou-se, mesmo que alguns por videochamada, por residirem fora do país, reunindo praticamente o núcleo familiar mais próximo: dois filhos, sete netos, quatro bisnetos e uma tetraneta. «Tivemos a casa cheia numa festa que os filhos nos organizaram e depois, aqui (no Centro de Dia na Antes, com a presença do presidente da Junta da União de Freguesias, Abílio Semedo), ainda foi maior com bolo, espumante, muita alegria. No fundo, tivemos duas festas em família, com muito respeito que é o que importa», enaltece Álvaro Gomes dos Santos, enfatizando que estar na ADCRA «é maravilhoso».
e madeireiro.