![Mónica Wolters Presidente Secção Ginástica Da Aac Fig 17](https://www.diariocoimbra.pt/wp-content/uploads/2025/02/Monica-wolters-presidente-seccao-ginastica-da-aac-fig-17.webp)
“Estamos satisfeitos com o crescimento que vamos conseguindo”
Diário de Coimbra | Como é que está a Secção de Ginástica da Académica? “Está bem e recomenda-se” como se costuma dizer?
Mónica Wolters | Sim, tem corrido muito bem. Tivemos ali uma pequena dificuldade na altura do Covid, como houve ali aquela incerteza do que se estava a passar, na época seguinte não sabíamos também se as pessoas queriam regressar a este tipo de atividades. Não deve ter sido só para a ginástica, com certeza, mas logo na época seguinte rapidamente voltámos aos números que tínhamos antes e desde aí tem sido sempre a crescer. Pouco a pouco e época após época, apesar de nós não termos possibilidade de grande crescimento, porque não temos espaço. Neste momento, usamos o Pavilhão 2 do Estado Universitário de Coimbra, a sala pequena que temos para as classes mais pequeninas de formação e temos também um espaço no Pavilhão 1. Estamos a usar os espaços das 17h30 até às 22h00. Estamos satisfeitos com o crescimento que vamos conseguindo ter aos pouquinhos e limitado pelo espaço.
Apesar dessa limitação ao nível das infraestruturas, a procura anual pela Ginástica da Académica é grande. Para a Direção e para o corpo técnico é uma responsabilidade acrescida essa grande procura, uma vez que vêem muitos pais a confiar-vos a educação desportiva dos filhos?
Claro que sim, até porque acabamos por ser uma das primeiras atividades dos mais novos, principalmente porque temos uma classe que começa aos 2 anos e os primeiros movimentos dos mais pequenitos acabam por acontecer aqui. Nós sentimos alguma responsabilidade aí, até para também não criarmos traumas com certos movimentos, apesar deste espaço ser sempre todo muito insuflado, sentimos alguma responsabilidade nessa formação. Depois, claro, que essa responsabilidade também passa para as competições e para o que eles vão aprendendo quando começam a entrar na competição, aos 8 ou 9 anos.
A falta de espaços acaba por ser a maior dificuldade?
Sim. A ginástica acaba por ser uma modalidade muito complicada de arranjar espaços, porque nós temos de ter o material montado o tempo todo. Há certas modalidades em que até se vai conseguindo desmontar material, mas nós, em acrobática, precisamos ter sempre as placas para ser muito mais seguro para o treino dos atletas e isso nós demoramos ainda algum tempo a montar e os trampolins também não conseguimos estar sempre a fechar e a abrir de acordo com a nossa utilização. O espaço que precisamos acaba por ter de ser só nosso. Aqui, o Pavilhão 2 funciona muito bem, porque durante o dia a Faculdade utiliza para ginástica e nós usamos ao final da tarde. O restante espaço que nós temos, foi-nos alugado pelo Estádio Universitário, mas que só funciona mesmo para a ginástica, não consegue ser usado para mais nada. Faz-nos falta ter um espaço grande e com potencial para crescimento.
Neste seguimento, o novo Complexo Desportivo de Ginástica que está a ser construído em Coimbra é uma boa solução?
Claro que sim. Aquele pavilhão está a ser construído para as áreas de acrobática e de trampolins, que também são as áreas que nós temos. Mas para além de nós, existem mais quatro clubes na região que também merecem o usufruto do espaço. Ainda não sabemos como é que será feita essa gestão, nem como é que vai ser feita a distribuição entre os vários clubes. Será bom, mas naturalmente que nunca nos vai retirar a necessidade de termos este espaço.
Mesmo com estas dificuldades de espaço, com tantas crianças para treinar e com participações em competições nacionais e internacionais ainda se aventuram a organizar provas de grande relevo em Coimbra. Têm tempo livre a mais para ocupar?
[risos] Não temos é tempo livre, nenhum. Este é um grupo que começou já há muitos anos a trabalhar. É um grupo de ex-praticantes e outros que ainda são praticantes, que começaram a fazer vários eventos internacionais. Se não me engano, começou em 2001 com um torneio internacional de acrobática. Depois tem sido sempre à procura de novos desafios. Os mais recentes, foram as Taças do Mundo de Trampolins, que começámos em 2016 a organizar e depois tivemos novamente em 2020, que foi adiada para 2021 devido à pandemia, e desde esse ano ainda não parámos. Temos organizado ano após ano uma Taça do Mundo de Trampolins no Verão que acaba por trazer muitos ginastas mundiais aqui a Coimbra. Em 2023 foi ano de apuramento olímpico, então tivemos os melhores dos melhores cá e foi excelente.
Estes certames são de grande relevo para a cidade. Quão importante é para os ginastas da AAC e dos outros clubes poderem ver ao vivo atletas de valor internacional?
É um pouco por isso também que nós organizamos estas taças. Acabamos por trazer aqui alguma motivação extra aos nossos ginastas. Ao mesmo tempo que decorre esta Taça do Mundo é feito um torneio internacional de trampolins, no qual qualquer um se pode inscrever e acabam por ver de perto os grandes ídolos deles enquanto fazem os treinos e mesmo nas prova deles. Pela experiência que temos, essa proximidade dá-lhes uma motivação extra para a época seguinte.
Na última época, a Académica foi a 2.ª classificada na Liga Nacional de Clubes. Deixa-a orgulhosa?
Esta Liga Nacional de Clubes mede o crescimento do clube, ou seja, o número de ginastas filiados na área de ginástica para todos. Portanto, contam muito os nossos ginastas mais pequenos na formação, os que fazem esta modalidade e também os resultados obtidos nas várias competições nacionais. O nosso trabalho nunca é desenvolvido para chegar ao primeiro lugar nesta Liga, mas deixa-nos muito contentes ficar assim classificados, porque quer dizer que para além de termos crescido, obtivemos bons resultados. Dá-nos alguma força para na próxima época procurarmos ser cada vez melhores.
Voltando às organizações internacionais, o Parkour foi uma novidade em 2024. Como é que surgiu esse desafio?
O parkour juntou-se à Federação de Ginástica há relativamente pouco tempo e sentimos essa necessidade de abrir a modalidade no nosso espaço. Nunca tendo tido uma grande procura, fizemos questão de ter essa oferta, até porque temos alguns ginastas que acabam depois por transitar para ela quando começam a entrar ali nos 8, 9 anos, idade em que alguns não querem tanto fazer ginastas, mas querem experimentar o parkour. Com esta entrada do parkour para a ginástica, iniciaram-se também as competições, mas nunca tinha havido uma seleção de Portugal e nós vimos isso como um desafio. Preparámos dois dos nossos ginastas para começarem a ir a algumas provas em Espanha, país que tem já o Parkour bem assente. E depois fomos rumo à Taça do Mundo de Montpellier, em França, em maio do ano passado, para vermos como é que seria então uma Taça do Mundo. Entretanto, já nos tínhamos candidatado a fazer a primeira Taça do Mundo de Parkour em Portugal, para tentar também ajudar aqui no desenvolvimento da modalidade na cidade e no nosso país. Foi uma aventura que valeu imenso a pena, foi muito giro. Em Montpellier, eles fizeram a taça dentro de um evento de “desportos extremos” e depois trouxemos para Coimbra a nossa versão do que achávamos do que poderia ser a nossa versão da Taça do Mundo de Parkour e correu super bem, tivemos sorte de ter muito bom tempo no fim de semana e ainda apanhar as férias dos mais novos. Chamou muita gente, também com a Feira do Desporto da Câmara Municipal de Coimbra, tivemos o evento que queríamos, com bancadas cheias o tempo todo. Acho que foi uma experiência muito boa.
O que não falta aqui na Académica são atletas internacionais ou com participações e bons resultados em provas além fronteiras. Fazem desses atletas uma referência para os mais novos? Conseguem aqui dentro fazer essa conjugação de formação e alto rendimento?
Sim. Nós vamos tendo sempre ginastas que vão a eventos internacionais e notamos que os mais novos olham muito para eles como um exemplo. É àquele nível que querem chegar. O espaço não é muito grande, portanto nós treinamos todos juntos. Os mais novinhos ainda não dão tanto conta disso, mas os que estão a iniciar a competição começam a olhar de forma diferente e atenta para os que fazem a prova com eles. Iniciamos sempre as épocas com os Territoriais e notamos que os mais novos fazem a prova e depois querem ver as provas dos mais velhos, dos que já são referência para eles. Ficam muito contentes e isso puxa por eles também.
Ginástica foi uma paixão que surgiu “por acaso”
![Mónica Wolters Presidente Secção Ginástica Da Aac Fig 30](https://www.diariocoimbra.pt/wp-content/uploads/2025/02/Monica-wolters-presidente-seccao-ginastica-da-aac-fig-30-e1738778418898.webp)
Como é que surgiu esta paixão pela ginástica?
Foi um grande acaso. Eu estava com a minha prima numa caminhada que acabava aqui no estádio e estavam a decorrer aqui umas apresentações da Secção de Ginástica. E eu achei mesmo muito engraçado e na semana seguinte vim experimentar. Acabei por ficar. Na altura tinha 16 anos e já era tarde para iniciar a modalidade enquanto competição, mas tínhamos aqui a classe de Sub-20, que é um grupo de ginástica para todos que faz esquemas de grandes grupos. Mantive-me até há dois anos, quando decidi que já estava na altura de largar o praticável enquanto ginasta, mas continuo sempre como treinadora também.
E dentro desta disciplina que escolheu, o que é que mexeu consigo?
Eu adoro apresentações. Desde pequenina que fazia dança, mas sentia que eram só aquelas apresentações de final de ano para os pais. Aqui, a partir de janeiro, há saraus em todo o lado e eu gostava muito disso. Além de termos alguns momentos mais competitivos, mas tudo o resto dava-me muito gosto. E para além disso, tínhamos também eventos internacionais, íamos ao Eurogym e à Gymnaestrada e outros. É algo que eu gostava imenso e que tenho muita pena de não poder continuar, mas o tempo não estica.
E como é que abraça o dirigismo?
Aos 18 anos, estava na faculdade e uma vez estava aqui no pavilhão ainda nas férias e os responsáveis da Secção chamaram-me e perguntaram-me se eu tinha interesse em ingressar na Direção. E eu, na altura ingénua como era, entrei. [risos] Lá me mantive durante cinco anos, depois larguei para ir para Bruxelas trabalhar, mas nesses anos gostei muito de fazer parte, apesar do trabalho que dá. Depois voltei de Bruxelas e voltei para os cargos de dirigente.
Também é um bom exemplo para os restantes ginastas ao conciliar bem os estudos e a ginástica. Quem é Mónica fora da ginástica?
Entrei em Engenharia Biomédica na Universidade de Coimbra. Para mim foi sempre muito fácil conciliar os estudos com a ginástica porque eu saía da ginástica e ia ter os jantares com os meus colegas e isso não mudava nada. Nunca senti necessidade de faltar à ginástica para poder estudar. Eu via muito a ginástica como um escape para o meu dia a dia. Quando eu ficava mais nervosa, mais stressada e ainda hoje uso muito isso, eu entrava na ginástica e saía daqui completamente diferente. Era a minha terapia. E quando acabei o curso, fui para a Bruxelas fazer um estágio que nem era relacionado com o meu curso, uma vez que eu acabei por dar outro caminho à minha vida. Fiz um estágio de marketing e comunicação. Acabei por ter a oportunidade de ir para a Federação Europeia da Júnior Empresas e aí trabalhei na área da comunicação. Aí senti muita falta da ginástica. Quando regressei a Portugal, voltei à ginástica e cá estou.
Sarau da AAC é emblemático, o sonho de melhorar as condições e o “orgulho” do prémio no Podium
![Mónica Wolters Presidente Secção Ginástica Da Aac Fig 5](https://www.diariocoimbra.pt/wp-content/uploads/2025/02/Monica-wolters-presidente-seccao-ginastica-da-aac-fig-5-e1738838409573.webp)
Um dos símbolos da Secção de Ginástica é o Sarau...
É, porque acaba por ser o culminar da época desportiva. Nós gostamos muito de fazer um sarau temático. Queremos sempre preparar o melhor espetáculo para os nossos encarregados de educação, para os ginastas e para a população. E dá-nos sempre muito gosto de o fazer. Gostamos muito de escolher o tema, de depois pensar no enredo todo que vai ser feito e como é que as várias classes podem entrar nesta festa. E as ginastas não contam aos pais, porque é um segredo.
Qual é o sonho que tem para a ginástica da Académica?
Termos um bom espaço de treino. Conseguirmos isso ou pelo menos irmos evoluindo ao longo do tempo para melhores espaços de treino para darmos melhores condições aos nossos ginastas. Porque aquilo que nós queremos é formá-los, dar-lhes as melhores condições possíveis para atingirem os sonhos deles aqui na modalidade e às vezes sentimos que não é possível, porque o espaço não estica e as horas de treino também não. Se isso acontecer, vai ser uma bola de neve para muitas outras boas coisas que vão aparecendo. Melhores oportunidades, mais eventos internacionais e um maior crescimento.
O que significou para a Secção ser distinguida pelo Diário de Coimbra na Gala Podium?
É um prémio que não só congratula a Secção, mas todos os nossos ginastas que aqui estão diariamente para melhorarem e atingirem novos patamares e os nossos técnicos, porque sem eles não era possível ter este reconhecimento. São eles que trabalham aqui diariamente, acabam o trabalho deles do dia e vêm para o trabalho deles da noite e aqui estão a tentar formar estes ginastas, a levá-los às competições territoriais, nacionais e internacionais, despendendo dos fins de semana com a família. É um enorme orgulho para toda esta família e só nos faz querer trabalhar cada vez mais.