Coleção de ex-votos de João Patrício na Misericórdia de Cantanhede

Depois de ter estado patente no Salão Nobre da Irmandade, no Colégio da Sapiência da Santa Casa da Misericórdia de Coimbra, a exposição “Medicina e Religião: a doença, a cura e a graça nos ex-votos da coleção de João Patrício” entra em itinerância e o ponto de partida é a Santa Casa da Misericórdia de Cantanhede.

Mas, o que são afinal os ex-votos? Tratam-se de pequenos quadros de madeira que revelam uma ligação entre a medicina e a religião. Como explica o médico e colecionador João Patrício, eram criados a pedido dos «desenganados» da medicina ou seus familiares que esperavam um milagre.

«Os quadradinhos eram encomendados, em regra geral, por gente simples a um pintor popular», sublinha Maria José Azevedo Santos, presidente do Centro Académico de Democracia Cristã (CADC).

«Vemos os protagonistas com os seus nomes, as situações de angústia, aflição ou doença» não só em pessoa, mas também nos animais, salientou a professora jubilada na inauguração da exposição na Misericórdia de Cantanhede.

Ao observar estas peças, o que se pode ver são «lugares de memórias e fontes de conhecimento», continuou Maria José Azevedo Santos.

Ao longo da apresentação da mostra, João Patrício foi revelando vários exemplos e, juntamente com as imagens pitorescas recordava a indicação terapêutica à época. É o caso de uma situação de traumatismo craniano, em que se vê o ex-voto, mas também as recomendações terapêuticas dos séculos XVIII e XIX: passar nas feridas «pensos com aguardente, beber água cozida com cevada, não beber vinho, fugir do sexo porque debilita o cérebro».

E o que dizer de um traumatismo com perfuração? Uma das recomendações era «lavar as tripas não alteradas com vinho quente, se alteradas, colocar sobre elas animais abertos vivos ou bofe de animal».

«É uma exposição imperdível», salientou o provedor Rui Filipe Rato.