Rede acusada de burlas digitais com contas bancárias julgada em Coimbra
Doze arguidos começam a ser julgados amanhã, no Tribunal de Coimbra, acusados de participarem numa rede que criava ‘sites’ falsos de bancos para conseguir aceder a contas bancárias das vítimas.
Entre os 12 arguidos, há dois acusados de um envolvimento maior no grupo, cuja organização e membros o Ministério Público não conseguiu identificar na sua plenitude, nomeadamente os ‘hackers’ que criavam os ‘sites’ falsos de bancos, assim como aplicações para extrair dados das vítimas.
No processo a que a agência Lusa teve acesso, são referidos sete casos distintos nos quais a burla acabou por se concretizar, tendo lesado pessoas de diferentes pontos do país, com valores entre cerca de 2.000 euros e mais de 13 mil euros.
Ao todo, o Ministério Público pede que sejam declarados perdidos a favor do Estado 43 mil euros associados às burlas.
Um dos dois principais arguidos, de 29 anos, encontra-se preso preventivamente em Aveiro e começou por ser uma conta mula (conta bancária usada para movimentar dinheiro subtraído das burlas), tendo-se envolvido de forma mais direta no esquema a partir de 2023, a convite de outro arguido, que se encontra em parte incerta.
De acordo com a acusação do Ministério Público, o homem de 41 anos fugido das autoridades seria uma espécie de pivô em toda a operação.
Angariava as contas mulas, transferia o dinheiro entre contas, dava ordens de pagamento de compras na internet, angariava pessoas para irem recolher computadores e telemóveis comprados na internet com recurso às contas bancárias das vítimas, e contactava, através da aplicação WhatsApp, com um grupo de ‘hackers’ que lhe dava os dados bancários das vítimas.
Segundo a acusação, o plano consistia em criar páginas de internet idênticas aos ‘sites’ oficiais de bancos, como a Caixa Geral, BPI, BBVA ou Novo Banco, para onde eram direcionadas as vítimas (muitas das vezes após pesquisarem o nome do banco no motor de busca Google).
Dentro da página, surgia uma janela a pedir a instalação de um complemento de segurança, que obrigava posteriormente a vítima a dar dados pessoais, como o número de contrato bancário e dados e identificação do utilizador, entre outros.
Assim que os dados estavam na posse dos ‘hackers’, eram enviados ao arguido que está em paradeiro desconhecido, que entrava nas contas das vítimas e avançava logo com ordens de pagamentos de equipamentos eletrónicos nas páginas de lojas como a Worten ou Fnac e transferência bancárias para contas por si controladas.
Ao ordenar os pagamentos, o banco enviava um código para o telemóvel do titular, momento em que os ‘hackers’ acionavam novamente o falso complemento de segurança, pedindo às vítimas o código que tinham recebido por mensagem.
Quando o código era enviado, a transferência ou pagamento eram autorizados e, posteriormente, o computador da vítima reiniciava automaticamente.
A maioria dos casos ocorreu entre novembro e dezembro de 2023, naquilo que o Ministério Público considerou ser uma “campanha” engendrada pelo grupo.
Os dois principais arguidos são acusados de dois crimes de branqueamento, cinco de burla qualificada, dez de falsidade informática, cinco de burla informática e um de falsificação de documento.
Além disso, um deles é acusado de cinco crimes de acesso ilegítimo e outro de seis.
Sete arguidos são acusados de branqueamento, por servirem como contas mulas da operação, e três de recetação, por irem recolher os equipamentos comprados às lojas.
O julgamento está marcado para amanhã, às 9h30, no Tribunal de Coimbra.