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Gina Almeida leva a tradição dos lenços dos namorados à escola
"Amore da minha bida bou amarte inté ao fim", "curação por curação" ou "Passarinho, passarinho, leva a flor ao meu amor". Com ou sem erros ortográficos, os lenços dos namorados são peças que fazem parte das memórias de muitas famílias, especialmente, no norte do país, mas na Escola Básica Solum Sul, há alguém que se deixou encantar por esta tradição e, todos os anos, por altura do Dia dos Namorados, brinda os alunos com as réplicas que vai criando. Falamos de Gina Almeida, uma das funcionárias mais antigas e queridas da escola, que, esta manhã, voltou a levar para a escola os seus lenços dos namorados e outros objetos bordados para mostrar numa sessão com as turmas dos 3.º ano.
«Isto é viciante», revelava ao Diário de Coimbra, dona Gina - como todos, carinhosamente, a tratam -, antes dos mais pequenitos chegarem à biblioteca. Afilhada de uma madrinha que «andava nos bordados», terá sido com ela que ganhou o gosto pelas linhas e pelas agulhas, mas é há pouco mais de 20 anos que se dedica a esta arte centenária. Desde os lenços bordados em linho, passando por abajours de candeeiros, lençóis e até uma sombrinha, Gina Almeida dá asas à imaginação, mas sempre respeitando a tradição e, nas pausas de almoço na escola, é vê-la de agulha na mão a bordar.
«Gosto tanto, tanto, que guardo cada bocadinho de pano», contou aos alunos, a quem fez questão de contar as origens dos lenços dos namorados e por que razão tinham erros ortográficos. Num tempo em que não havia telemóveis ou computadores, em vez de cartas de amor, muitas jovens optavam por bordar todo o seu amor pela pessoa amada num pedaço de tecido. E assim foi durante largas décadas, mantendo-se, atualmente, a localidade de Vila Verde, no norte do país, como o ponto principal da promoção do lenços dos namorados.
Gina Almeida é natural e residente em Pereira, Montemor-o-Velho, mas esta arte apaixonou-a de tal maneira que faz questão de a divulgar com amor pelas escolas do Agrupamento de Escolas Eugénio de Castro e, especialmente, na "sua" Solum Sul.
E porque em 2025 se celebram os 500 de Luís de Camões, os meninos do 3.º ano não terminaram a sessão sem um desafio: devem ter como inspiração um poema ou um soneto do poeta e criar um desenho com os motivos dos lenços dos namorados (corações, pombas, flores, etc.). E, desta vez - só desta vez -, têm de dar erros, porque assim manda a tradição.