Areaclientedc
Última Hora
Pub

PERFIL: Pinto da Costa emancipou FC Porto com 15.355 dias de êxitos e polémicas

Líder portista faleceu hoje aos 87 anos

Jorge Nuno Pinto da Costa morreu hoje aos 87 anos, menos de um ano depois da histórica derrota nas eleições do FC Porto, que colocaram um ponto final após 15.355 dias de presidência, alternando sucessos desportivos com várias polémicas.

Entre 23 de abril de 1982 e 07 de maio de 2024, o 33.º líder da história do clube ajudou a alterar a correlação de forças no desporto nacional e tornou-se a maior figura do universo ‘azul e branco’, colocando-o numa senda vitoriosa sem precedentes dentro e fora do país.

Os ‘andrades’ deram lugar à figura mitológica do dragão e Pinto da Costa enriqueceu um legado de 42 anos e 15 mandatos consecutivos com a conquista de 2.591 troféus em 21 modalidades, atingindo o estatuto de dirigente mais longevo e galardoado do mundo no futebol, fruto de 69 sucessos no escalão sénior masculino, incluindo sete internacionais.

O principal perseguidor é Florentino Pérez, de 77 anos, que junta 37 cetros seniores no futebol entre as duas passagens pelos espanhóis do Real Madrid (2000-2006 e desde 2009), quatro dos quais vencidos já depois da expressiva derrota do agora malogrado presidente honorário do FC Porto (19,52%) frente a André Villas-Boas (80,28%), antigo treinador do futebol ‘azul e branco’, nas eleições mais participadas de sempre do clube.

Acostumado a ser idolatrado no universo portista, ‘pagou’ pelo momento mais conturbado na presidência do clube do coração, que nunca sequer tinha imaginado liderar, mas já acompanhava com fervor desde as idas na infância ao antigo Campo da Constituição.

Nascido em 28 de dezembro de 1937, na freguesia portuense de Cedofeita, Jorge Nuno de Lima Pinto da Costa derivou de uma família da alta burguesia e com fortes tradições culturais, em que o futebol não tinha eco, e começou a trabalhar no Banco Português do Atlântico com quase 20 anos, quando já iniciava a ligação ao FC Porto como dirigente.

Com passagens pelas secções de hóquei patins e em campo e boxe desde 1958, chefiou as modalidades amadoras de 1969 a 1971, retornando ao clube cinco anos depois como diretor do futebol, ladeado por José Maria Pedroto, treinador do Boavista e da seleção nacional, numa altura em que Américo de Sá já tinha rendido Afonso Pinto de Magalhães na presidência.

Levantada a interdição que impedia o seu regresso ao FC Porto, Pedroto desfez 19 anos de interregno ‘azul e branco’ com dois campeonatos consecutivos (1977/78 e 1978/79), mas findaria essa segunda passagem pelo banco no ‘verão quente’ de 1980, quando acompanhou a saída de Pinto da Costa, ambos incompatibilizados com Américo de Sá.

As bases lançadas por ambos seriam recuperadas dois anos mais tarde, com Pinto da Costa a chegar ao poder incitado por um movimento de associados e sem oposição, disposto a revigorar um palmarés com apenas 16 troféus, incluindo sete edições da I Liga.

Uma reviravolta na Luz frente ao Benfica (2-1) para a Supertaça Cândido de Oliveira de 1983, após empate 0-0 na primeira mão, auspiciou tempos de mudança, que permitiram à nova gestão cumprir a promessa eleitoral de colocar o FC Porto numa final europeia em 1983/84, pese a derrota com os italianos da Juventus (1-2) na Taça dos Vencedores das Taças, já sem Pedroto no banco, devido a doença prolongada.

Seguiram-se sete êxitos internacionais - Taça dos Campeões Europeus (1987/88), Taça Intercontinental (1987 e 2004), Supertaça Europeia (1987), Taça UEFA (2002/03), Liga dos Campeões (2003/04) e Liga Europa (2010/11) -, mais do dobro dos três acumulados em conjunto pelos rivais lisboetas Benfica, vencedor da Taça dos Campeões (1960/61 e 1961/62), e Sporting, triunfante na Taça das Taças (1963/64).

Essa afirmação além-fronteiras foi alicerçada numa crescente consistência interna, que levou o FC Porto a vencer 23 das 43 edições da I Liga finalizadas na era Pinto da Costa - incluindo um singular ‘penta’, de 1994/95 a 1998/99 -, contra os 20 cetros repartidos por ‘águias’ (14), ‘leões’ (cinco) e o rival citadino Boavista (um) juntos.

Ao agregarem 16 Taças de Portugal, 22 Supertaças Cândido de Oliveira e uma Taça da Liga, os ‘dragões’ mais do que quintuplicaram o seu palmarés e arrebataram 62 dos 145 troféus futebolísticos nacionais em disputa do início ao fim daquele ‘reinado’ presidencial.

Entre as principais modalidades de pavilhão, o andebol (de 13 para 44 êxitos no patamar sénior), o basquetebol (de seis para 46), o hóquei em patins (de um para 77, incluindo 10 internacionais) e o voleibol (de 11 para 24) também foram evoluindo em competitividade.

A modernização encetada por Pinto da Costa refletiu-se ainda no património, desde logo com o rebaixamento do Estádio das Antas (1986), cuja demolição viria a coincidir com a abertura do Dragão (2003), intercalada com o Centro de Treinos e Formação Desportiva PortoGaia, no Olival (2002), o pavilhão Dragão Arena (2009) e o museu do clube (2013).

Além da frequência em combinar êxitos desportivos com polémica fora das quatro linhas, pôs os ‘dragões’ a falarem ao ritmo da própria voz, aglutinadora do sentimento portista e portuense e plena de discurso frontal, mordaz e irónico contra rivais, imprensa e o “centralismo de Lisboa” por si censurado.

Estratega na gestão do palco mediático e desigual na relação com os oito homólogos do Benfica e os 12 do Sporting conhecidos em 42 anos, semeou ódios e amores, comprou e vendeu guerras, sem nunca passar despercebido na irrupção institucional do FC Porto.

Ligado a processos criminais, mas sem condenações nos tribunais comuns, Pinto da Costa teve a reputação beliscada em 2004 com o envolvimento no Apito Dourado, que investigou alegados casos de corrupção no futebol português, tráfico de influências e coação sobre árbitros, sendo inviabilizado o uso de escutas comprometedoras como meio de prova.

O controverso ‘Eu, Carolina’, lançado pela ex-companheira Carolina Salgado, trouxe a público revelações sobre os bastidores da modalidade e o relacionamento com o antigo presidente do FC Porto, que comandou igualmente a Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP), entre 1995 e 1996, e fundou a SAD dos ‘azuis e brancos’, em 1997.

Batizado na gíria futebolística como ‘Papa’, Pinto da Costa manteve-se fiel à sua essência até passar a pasta a André Villas-Boas, uma das personalidades indesejadas no seu funeral, conforme elencou em “Azul até ao fim”, o seu quinto e último livro, no qual desabafou os dilemas sentidos nos últimos três anos desde o diagnóstico cancerígeno na próstata.

Fevereiro 15, 2025 . 20:44

Partilhe este artigo:

Junte-se à conversa
0

Espere! Antes de ir, junte-se à nossa newsletter.

Comentários

0 Comentários
Feedbacks Embutidos
Ver todos os comentários
Fundador: Adriano Lucas (1883-1950)
Diretor "In Memoriam": Adriano Lucas (1925-2011)
Diretor: Adriano Callé Lucas
94 anos de história
bubblecrossmenuarrow-right