
A lenda e o mito de Inês vs a história real de uma mulher “muito injustiçada”
«É preciso mais investigação, é preciso ir aos arquivos» para se conhecer mais sobre a verdadeira história de Inês de Castro, referiu a historiadora Maria José Azevedo Santos, numa conversa sobre «a figura incontornável da história de Portugal», que decorreu sábado no Edifício Aqua da Quinta das Lágrimas, no âmbito das celebrações dos 700 anos do seu nascimento.
Uma conversa que juntou ainda Jorge Pereira de Sampaio, historiador alcobacense e membro da Fundação Inês de Castro, tal como Assunção Júdice, presidente da Fundação. Na plateia, outros membros da Fundação, mas também artistas, fotógrafos e outras personalidades que nutrem um interesse especial por Inês de Castro.
Numa conversa informal, os convidados falaram de algumas curiosidades da vida de Inês que, no seu tempo, abalou a corte portuguesa, mas que depois de morta, «deu lugar a uma torrente de lenda» que se espalhou por Portugal e pelo mundo e que ainda hoje inspira poetas, escritores, artistas, dramaturgos.
Maria José Azevedo Santos, por exemplo, referiu que, nas 1200 cartas da Chancelaria de D. Pedro I, apenas três mencionam D. Inês e aguçam a curiosidade do historiador.
Uma delas revela que D. Pedro terá feito uma doação à Igreja de Santa Marinha da Costa. Porquê?, questiona Maria José Azevedo.
A explicação parece ficar a dever-se ao facto de «D. Inês ter mandado construir, nessa igreja, uma capela dedicada a S. Gervásio (mártir do século II), o que revela que «D. Inês era uma mulher devota». Outra curiosidade prende-se com o facto de «à época, ter havido apenas duas notícias sobre a morte de D. Inês.
Dos Cónegos Regrantes de Santa Cruz e dos Monges de Cister, de Alcobaça, «ambas muito lacónicas».
Já Jorge Pereira de Sampaio centrou a sua intervenção «na explicação sobre como é que uma história de amor do século XIV chega aos dias de hoje e a todo o mundo e continua a inspirar artistas das mais diversas áreas».
Depois de um percurso pela literatura (de Camões a Torga, António Ferreira ou a Eça de Queirós, mas também Antoine de La Motte, Voltaire e Victor Hugo , tal como escritores contemporâneos), Jorge Pereira de Sampaio remata dizendo que «a história de Pedro e Inês vive por si».
E, corroborado por Maria José Azevedo Santos, diz «tratar-se de uma história que tem tudo, amor proibido, sentença de morte, vingança, questões políticas o que ajuda na criação da lenda e do mito que, depois se projetam pelo mundo.
A propósito Jorge Pereira de Sampaio recorda uma ópera apresentada no Japão, em que os protagonistas eram só homens, com uma mudança de final: Inês não morre».
No final, a palavra coube aos presentes, com Jorge Pereira de Sampaio a questionar a artista Nélia Caixinha sobre «o que vê em Inês que a inspire».
A artista, autora de várias exposições de pintura e desenho sobre Inês, explicou que «a sua obsessão por Inês de Castro prende-se com o facto de ter sido uma mulher muito injustiçada».
À médica Fátima Lorvão Figueiredo, Jorge Pereira de Sampaio questiona se, do ponto de vista médico, «as emoções deixam marcas nos órgãos, como o coração, por exemplo» e a resposta surge peremptória: «Há ‘estilhaços’ das nossas emoções nos nossos corações».
Quer isto dizer, explica a médica, que com as maravilhas da imagiologia «é possível ver como as emoções, a dor ou a angústia afetam o coração ou outros órgãos». Por isso, Jorge Pereira de Sampaio lança o repto à fundação de que se pode promover uma conversa sobre Inês, tendo como oradores, médicos de várias especialidades. |