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Gulbenkian financia cientistas para diminuir poluição na indústria têxtil
A tecnologia inovadora tem como objetivo reduzir a utilização de corantes, mas também de água e energia para a produção de tecidos.
“Temos uma patente, a tecnologia desenvolvida, e agora só falta o desenvolvimento do equipamento que possa ser testado junto das indústrias têxteis”, disse hoje o coordenador do projeto, Jorge Pereira, na sessão de apresentação.
Segundo o docente, o futuro equipamento vai pegar nos efluentes dos tingimentos, que contêm ainda uma carga orgânica de corantes muito elevada, concentrar esses corantes e reutilizá-los no tingimento de outras peças de roupa.
O projeto “Universidade de Coimbra – Tecnologias Circulares para o tingimento têxtil”, tem como foco a sustentabilidade do setor têxtil, prevendo reutilizar 70 a 90% dos corantes utilizados no tingimento do vestuário e reduzir o consumo de água e de energia.
“É uma tecnologia que vem tentar mudar o paradigma da indústria têxtil, que, em 2030, deverá atingir os 145 milhões de toneladas produzidas”, realçou Jorge Pereira, explicando que, atualmente, não existe circularidade na produção.
O coordenador da nova tecnologia salientou que, “neste processo, a água vai tendo menos carga orgânica e será mais facilmente tratada e reintroduzida no processo [de tingimento]”.
“Estamos a pensar muito ambientalmente, mas também na sustentabilidade económica, já que estimativas conservadoras apontam para uma redução de custos de aproximadamente 50% no setor têxtil”, acrescentou.
A nível global, a indústria têxtil é atualmente responsável por 20% da poluição de água potável, pelo que o futuro equipamento pretende reduzir 50% dos custos de tratamento e reintroduzir 60 a 70% da água utilizada novamente no processo.
O equipamento vai ser desenvolvido até dezembro de 2027, altura em que termina o projeto, mas a ideia é testar a tecnologia em meados desse ano com parceiros nacionais, que vão estar envolvidos também na construção dos protótipos.
No final, de acordo com Luís Silva, coordenador da UC Business, o objetivo será criar uma empresa ‘spin-off’ académica.
O reitor da UC, Amílcar Falcão, acredita que dentro de dois anos exista “um resultado visível do projeto, o que será uma grande satisfação porque a sustentabilidade é uma coisa muito relevante, que não pode ficar só nas palavras e tem de ser passada atos”.
“O DyeLoop é um dos três primeiros projetos de grande dimensão que decidimos financiar. Ficamos muito contentes por podermos apoiar um projeto com uma tecnologia demonstrada e pronta a ser escalada”, destacou, por seu lado, o administrador executivo da Fundação Calouste Gulbenkian.
Segundo António Cruz Serra, a estratégia da instituição para este ano passou por financiar projetos que não fossem da área da ciência e da saúde e fora de Lisboa (onde está sediada), que estivessem numa fase em que a tecnologia tivesse sido demonstrada.