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“As carreiras começam por baixo e vocês não podem desesperar”
«As carreiras começam por baixo e muitos de vocês desesperam e não o devem fazer». Foi, desta forma, que Luís Castro se dirigiu aos estudantes que encheram ontem o Auditório Rui de Alarcão a propósito do 33.º aniversário da Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física da Universidade de Coimbra (FCDEFUC).
O treinador de futebol, juntamente com o seu treinador adjunto Vítor Severino, que foi contemplado com o prémio Carreira, foram convidados especiais do aniversário e debruçaram-se sobre o tema “Sinergia no Futebol: A importância das equipas técnicas multidisciplinares”.
Numa conversa moderada pelo professor Hugo Sarmento, o até há pouco tempo treinador dos sauditas do Al-Nassr, e que antes trabalhou em clubes como Botafogo, Shakhtar ou FC Porto, entre outros, falou muitas vezes diretamente para os alunos lembrando que a primeira equipa que treinou foi no futebol distrital e que só tinha um adjunto: «Na altura, comecei com apenas um assistente e recordo-me no primeiro jogo na “Champions”, que foi contra o Manchester City do Guardiola, de a nossa equipa técnica ter seis elementos. Tudo aconteceu de uma forma muito gradual e natural. À medida que a densidade competitiva foi aumentando tivemos de dar respostas. O contexto determina o que nós precisamos, por isso o ajuste técnico é necessário», constata.
Numa conversa descontraída e que entusiasmou a plateia, Luís Castro revelou que também foi aluno da Universidade de Coimbra, mas foi apenas uma passagem, como o próprio fez questão de frisar. «Estive no curso de Física, mas apenas passei. Foram dois anos, não fiz nada. Não dava para mim. Os meus pais queriam muito que eu estudasse, queria fazer-lhes a vontade, mas tive de seguir o meu caminho», recorda, aproveitando a sessão para elogiar Vítor Severino: «Conheci o Vítor num seminário da UEFA em Madrid. Estávamos a assistir às comunicações da UEFA e o Vítor estava ao meu lado. Foi sempre uma pessoa muito respeitadora. É alguém que teve capacidade de estudar, de projetar o que queria na vida, é muito inteligente. Teve a capacidade de resumir os 5 dias em Madrid e enviou-me o resumo. Pensei para mim: “Se um dia tiver oportunidade vou buscá-lo”. Quando estava no FC Porto e substituí o Paulo Fonseca convidei-o para ser meu assistente. É um profissional competente, que desafia o treinador de forma educada, que teve a capacidade de liderar a equipa na minha ausência. Além disso, ele sabe-me levar. Já depois de sairmos do Al-Nassr tivemos três convites para desafios que me apaixonaram. Eu ligava-lhe todo entusiasmado e ele respondia: “Esqueça isso, vamos só começar em junho”. Teve a capacidade de me fazer pensar em coisas mais positivas».
Por fim, e virando-se novamente para os alunos, deu um conselho: «Nunca deixem nada ao acaso. Aproveitem todas as oportunidades para mostrar que são boas pessoas e competentes. Não deixem de viver cada dia e lutem por aquilo que querem».
Vítor Severino orgulhoso
Antigo aluno e docente da FCDEFUC, Vítor Severino não escondeu o orgulho pela distinção com o prémio Carreira e sublinhou que a faculdade onde estudou e lecionou «é uma casa especial». Agradeceu aos professores e aos alunos, bem como a Luís Castro e à família. Admitiu que tem «algumas saudades de dar aulas», mas o sonho do futebol falou mais alto e lembrou que na FCDEF se formaram «muitos e bons treinadores, num mercado tão difícil como é o futebol».
Vítor Severino, que recordou os 10 anos que passou na Académica e que considera que Coimbra é também a sua casa apesar de ser natural de Peniche, lançou um repto aos estudantes: «Não peçam equivalências. Façam os cursos de treinadores. É importante ouvir os outros e é decisivo ter uma rede de conhecimentos».
A iniciativa, que contemplou ainda um momento musical, a celebração de protocolos e mais um conjunto de homenagens (entre eles Telmo Pinão), teve ainda uma intervenção do professor Luís Sardinha da Faculdade de Motricidade Humana, de Lisboa, que falou sobre o tema “Why exercise precision?”.|