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Comunidade local partiu à descoberta da natureza na Ribeira de Coselhas
Quem passa na Circular Externa de Coimbra pode nem se aperceber, mas ali bem perto “vive” um ecossistema natural na Ribeira de Coselhas.
Três dezenas de cidadãos interessados em saber mais partiram ontem numa pequena expedição por esta ribeira que tem pouco mais de 1,5 a 2 metros de largura, mas que comporta uma «enorme biodiversidade», disse Maria João Feio, investigadora da Universidade de Coimbra e do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE), em conversa com o Diário de Coimbra.
Nos últimos anos a equipa liderada por Maria João Feio tem estudado as cerca de 20 ribeiras no concelho de Coimbra com o objetivo de «monitorizar, estudar e recolher dados que valorizem estas ribeiras».
«Este caso [da Ribeira de Coselhas] é muito interessante. porque é uma ribeira que vem da zona do Tovim (...) passa pela Casa do Sal e desagua no rio velho junto ao Choupal», explicou.
Apesar de passar não longe do centro da cidade tem «troços bastante naturais e bem preservados com salgueiros, amieiros, choupos», contudo tem sido invadido por espécies não endógenas que dificultam o crescimento de outras plantas, afirmou a investigadora.
Com mais de 47 espécies identificadas nas margens e nas águas, Maria João Feio explica que são «sinais de boa qualidade ecológica.». «Encontramos aqui nesta zona da ribeira um grupo de espécies que são bastante sensíveis, mas noutros locais já não as encontramos devido à degradação».
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Larvas de insetos, libelinhas, crustáceos e alguns moluscos fazem parte da biodiversidade presente neste curso de água às portas de Coimbra que é habitat para enguias e ruivaco e ainda um conjunto de espécies de aves muito próprios destes ecossistemas.
Na ribeira a equipa de investigadores já identificou perto de meia centena de espécies
O trabalho no terreno passa também pela sensibilização da população para a importância de conservar estas ribeiras que, ao longo dos tempos, foram sendo utilizadas de formas mais ou menos invasivas. Durante o estudo, os investigadores descobrem muitas vezes tubagens ligadas diretamente ao rio para descargas de esgotos de habitações e canais de captação de água para regas de jardins ou de pequenas hortas, assim como açudes ou barreiras que prejudicam o curso natural das espécies que ali habitam.
«Em termos morfológicos, mais do que químicos, temos um impacto muito grande nesta ribeira em específico». Comparativamente a outras ribeiras estudadas por esta equipa de investigadores, a Ribeira de Coselhas não apresenta níveis de poluição muito altos, mas «há ribeiras em Coimbra onde isso é uma verdadeira preocupação», declarou a investigadora.
Expedição contou com a presença de 30 cidadãos
Os cerca de 30 cidadãos que aceitaram o desafio de explorar a ribeira tiveram a oportunidade de conhecer quais as espécies que vivem nas águas, as aves mais comuns e a flora habitual destes ecossistemas. Grupo de investigadores pretende repetir expedição noutras ribeiras de Coimbra.