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Contador de Elysio de Moura regressa à sua "casa"
Entre quadros, mobiliário, peças decorativas, joias, roupas, e tantas outras peças, tudo o que existe na Casa-Museu Elysio de Moura pertenceu ao médico psiquiatra e filantropo Elysio de Moura e à sua esposa, Celestina Salgado Zenha, que, em vida, se dedicaram às suas “meninas”, que acolhiam na Casa da Infância, e davam a vida digna que as crianças não tinham e mereciam.
As meninas, que começaram por ser nove em 1923, depressa chegaram às 215 em 1941, e o casal, que era abastado, começou a desfazer-se do seu património para sustentar a casa. Primeiro as propriedades, depois o recheio da casa, as peças de arte e as joias de Celestina Salgado Zenha, o que leva a crer que há muito mais espólio que pertenceu ao casal em parte incerta.
Em Torre de Vilela “morava” um “contador” do século XIX, que o seu proprietário, Alberto Braz, fez questão de devolver à origem, engrandecendo o espólio da Casa Museu. A peça, conta, é uma espécie de «escritório portátil», com escrivaninha, diversas gavetas para guardar a correspondência e as contas e pegas laterais para que pudesse ser transportado. Pertenceu a Elysio de Moura e, desde há cerca de 25 anos, que fazia parte da decoração da casa de Alberto Braz.
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O regresso da peça à sua origem há muito estava na cabeça de Alberto Braz. Concretizou-se agora. «Queria oferecer esta peça ao local onde sempre pertenceu», diz Alberto Braz que, após ler a notícia de uma exposição sobre Celestina Salgado Zenha entendeu que tinha chegado o momento de fazer essa transferência. Recém divorciado, Alberto fez questão que na partilha de bens o “contador” ficasse para si, para que pudesse ser doado.
Fascinado por mobiliário antigo, Alberto Braz sempre foi cliente assíduo de uma loja de antiguidades na Rua Alexandre Herculano e foi lá, há muitos anos, que adquiriu a escrivaninha que pertenceu a Elysio de Moura. «Estava exatamente assim neste estado de conservação», recorda.
Alberto Braz conheceu pessoalmente Elysio de Moura e, por isso, ainda mais significado atribui a esta doação.
Admite que se sente «bem» e espera que o seu gesto possa incentivar outras pessoas que tenham na sua posse bens do casal para que os doem à Casa-Museu e passem a ser património visitável por todos. «Acho que a memória dele [Elysio de Moura] merece», afirma.
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Casa-Museu apela para que as pessoas que tenham objetos da família Elysio de Moura doem
Milton Pacheco, responsável da Casa-Museu Elysio de Moura, saúda o gesto de Alberto Braz, que enriquece o espaço, e acredita que tantas mais peças do casal poderão andar perdidas, pelo que também ele faz o apelo à doação. «Há gente na cidade com bens do doutor», garante, referindo que haverá peças da coleção de pintura, bem como joias. Diz igualmente que o regresso do espólio à Casa-Museu é «uma forma de manter vivos todos os esforços que o doutor Elysio e a Dona Celestina fizeram em prol da instituição».
Recorde-se que a reconstituição da residência onde morou o casal foi possível graças à ajuda de amigos e conhecidos do homem que se notabilizou no ensino e na investigação da Psiquiatria e Neurologia em Portugal e que, a par disso, se dedicou à casa de acolhimento de crianças desfavorecidas ainda hoje em funcionamento.
Viagem pela vida do casal
Localizada na Rua Guilherme Moreira, junto à Universidade de Coimbra, a Casa-Museu foi inaugurada em 2018, no dia em que passavam 41 anos da morte de Elysio de Moura, em 1977, e a poucos dias de completar 100 anos. Nela é possível perceber como seria a vida do casal, através de uma viagem por aquelas que eram as peças do seu dia-a-dia. A entrada é gratuita mas sujeita a marcação, que pode ser feita através do e-mail [email protected].