
Impõe-se um plano de gestão para a Serra da Lousã
Trinta anos depois, o plano de reintrodução de cervídeos na Serra da Lousã constitui um sucesso amplamente reconhecido. Veados e corsos cresceram e multiplicaram-se, estendendo-se para norte e sul, este e oeste, ultrapassando de longe as fronteiras dos rios Mondego e Zêzere teoricamente balizadas há 30 anos. «Hoje há corsos e veados na Serra da Estrela», referiu Carlos Fonseca, investigador da Universidade de Aveiro e um dos elementos que acompanhou o processo desde a sua génese.
Uma história de sucesso assinalada com uma cerimónia realizada no salão nobre dos Paços do Concelho, na Lousã. O objetivo inicial era recordar o momento em plena serra, na Casa do Guarda Florestal do Porto Espinho, mas o mau tempo obrigou a definir uma nova rota. E é também uma nova rota, uma nova abordagem, que Luís Antunes, presidente da Câmara Municipal da Lousã, defende para a Serra da Lousã e para a gestão desta população de cervídeos.
Depois de recordar as figuras de proa que estiveram na génese do processo e de assinalar o sucesso do projeto, o autarca assumiu que, apesar dos muitos aspetos positivos, este êxito tem, também, aspetos negativos, designadamente no que se refere «aos «prejuízos agrícolas» causados pelos animais. Um registo que se estende à área da produção florestal e igualmente aos acidentes rodoviários, como fez notar Carlos Fonseca.
«Impõe-se uma gestão mais eficaz desta população», disse o autarca da Lousã, que assumiu perante o secretário de Estado das Florestas, Rui Ladeira, o «compromisso» de um Plano Cinegético e de Gestão da Serra da Lousã, envolvendo «todos os municípios» do território e com o acompanhamento do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas.
Para o autarca da Lousã, este «instrumento» irá permitir uma «gestão mais adequada da população de cervídeos», mas também uma «gestão integrada» da Serra da Lousã, que, defende, deve envolver «todos os agentes, públicos e privados», particularmente os municípios. Em seu entender, a Agência para o Desenvolvimento da Serra da Lousã, entidade criada há alguns anos e à qual preside, perfila-se como o organismo indicado para assumir esse papel, tendo como desígnio a «valorização do biótico Serra da Lousã».
Carlos Fonseca lembrou que a população de cervídeos da Serra da Lousã é a «mais bem estudada do país», tarefa assumida pelas universidades de Aveiro e de Coimbra, mas defendeu uma «monitorização» mais assertiva, designadamente em termos sanitários e advogou uma «gestão profissional» da serra e dos seus recursos cinegéticos, onde se inclui a componente prejuízos. Também a caça, ela mesma tem de ganhar valor no mercado e nos restaurantes da região, sugeriu.
O secretário de Estado, Rui Ladeira, garantiu o «compromisso do Governo» na valorização do setor caça, recordou a alteração legislativa recente relativamente à permissão de caça ao javali para controlo da espécie e garantiu que estão a ser feitas diligências no sentido da reabertura do Centro de Competências de Caça, organismo que reputa como essencial para, em parceira com as universidades e com as diferentes entidades, implementar uma estratégia nacional relativamente ao setor.