
Agência para o Desenvolvimento da Serra da Lousã "renasce" 10 anos depois
A ideia foi avançada ontem por Luís Antunes, presidente da Câmara da Lousã, na cerimónia que assinalou os 30 anos de reintrodução dos cervídeos. Um projeto coroado de sucesso, com um crescimento exponencial de veados e corsos, demonstrativo da sua boa adaptação ao ecossistema.
«Hoje temos uma população que cresceu e alargou a sua presença a todo o território», referiu o autarca, que enalteceu o grupo de pessoas e entidades que, há 30 anos, tiveram «a iniciativa e o empenho de concretizar» este projeto, cujo impacto considerou «globalmente positivo» e «importante» para a «valorização do património da Serra da Lousã», mas também com «impactos negativos», designadamente ao nível da produção agrícola, com os «prejuízos» que motivam reiteradas queixas dos agricultores e exigem solução.
«Impõe-se uma gestão mais eficaz da população animal», defendeu o autarca, que garantiu ao secretário de Estado das Florestas o «compromisso» de, em parceria com todos os municípios da região da Serra da Lousã e o acompanhamento do ICNF – Instituto de Conservação da Natureza e Florestas, um Plano Cinegético da Serra da Lousã.
«Um instrumento que permitirá fazer uma gestão mais adequada da população de cervídeos», adiantou, salientando que, além de salvaguardar a questão venatória, a Serra da Lousã exige uma «gestão integrada», envolvendo «todos os agentes», designadamente entidades públicas e privadas e, naturalmente, os municípios.
ADSL "não tem tido o funcionamento que desejávamos", afirmou Luís Antunes
«Entendemos como muito importante a sua operacionalização e demos passos para isso», disse. A «primeira prioridade», adiantou, «é a gestão e o plano cinegético», mas deixa a “porta aberta” a outros objetivos, designadamente a Área de Paisagem Protegida da Serra da Lousã.
Luís Antunes lembrou a criação da Agência para o Desenvolvimento da Serra da Lousã, criada há 10 anos, à qual preside e que «não tem tido o funcionamento que desejávamos», irá assumir um papel de liderança neste desafio.
30 anos da reintrodução dos veados e corsos
Nos 30 anos da reintrodução dos veados e corsos, o edil deixou este «compromisso de trabalho» em prol do «futuro do ecossistema Serra da Lousã» e da sua «valorização».
Carlos Fonseca, investigador da Universidade de Aveiro que acompanhou o processo desde a primeira hora – na madrugada de 3 de março de 1995, quando foram introduzidos os corsos e veados, então aluno de Biologia da Universidade de Coimbra.
A população de corsos e veados «teve uma expansão acima do que seriam as expectativas iniciais», galgando as “barreiras” do Mondego e Zêzere e crescendo em todos os sentidos .«Hoje estão na Serra da Estrela» e a «ambição de povoar a cordilheira central está cumprida», disse, reforçando que se trata de um «caso de sucesso sob o ponto de vista biológico e ecológico».
A «parte menos positiva» prende-se com os «estragos agrícolas e florestais e acidentes rodoviários», disse, complementando o diagnóstico do autarca e reforçando a «prioridade de medidas de gestão que possam mitigar esses aspetos menos positivos» de uma população de cervídeos já «altamente valorizada», reconhecida com ouro pela Comissão de Homologação de Troféus de Caça, mas que ainda está «muito longe» de mostrar todo o seu potencial.
Estes são os cervídeos «mais bem estudados do país», garantiu o coordenador científico do plano de gestão, que enalteceu o trabalho das Universidades de Coimbra e de Aveiro. «Esse conhecimento tem de ser aproveitado para uma melhor gestão», disse, assumindo que há «condições técnicas para fazer uma gestão profissional» deste recurso cinegético.
