
A perda e o desperdício alimentar são um dos grandes desafios da atualidade
Ao longo da sua carreira na investigação, a que áreas se tem dedicado?
A minha carreira de investigação tem-se centrado em temas relacionados com a sustentabilidade, a gestão da cadeia de abastecimento e a economia circular. Desde o início do meu percurso académico, tenho procurado estudar como tornar os sistemas produtivos e logísticos mais eficientes e sustentáveis, abordando desafios que vão desde o desperdício alimentar até à transição para a economia circular. Um dos focos principais do meu trabalho tem sido a redução da perda e do desperdício alimentar, analisando as suas causas ao longo das cadeias de abastecimento e investigando estratégias para minimizar os impactos económicos, ambientais e sociais. Para isso, recorri a metodologias analíticas e métodos de decisão multi-critério, combinando revisões sistemáticas da literatura com estudos de caso empíricos. Esta linha de investigação permitiu apurar, por exemplo, que as principais causas de perda e desperdício alimentar na cadeia de abastecimento de frutas e vegetais em Portugal estão relacionadas com problemas logísticos, sobretudo com o mau manuseamento e o desempenho operacional deficiente da cadeia de abastecimento, embalagens inadequadas ou defeituosas/danificadas, a falta de instalações de armazenamento, a falta de coordenação e de partilha de informações ao longo da cadeia de abastecimento e sistemas de transporte inadequados. As soluções passam por partilhar e manter informações sobre o prazo de validade restante dos produtos, formar os colaboradores em práticas eficazes de manuseamento, assegurar a comunicação entre as diferentes fases da cadeia de abastecimento, implementar sistemas automatizados de previsão da procura e desenvolver e utilizar embalagens inteligentes para monitorizar a segurança e a qualidade dos produtos frescos. Estas estratégias estão principalmente relacionadas com a gestão de informação e visam melhorar o seu fluxo ao longo da cadeia de abastecimento, para garantir que o processo de tomada de decisão é apoiado por informação suficiente. Além desta vertente, a minha investigação tem evoluído para um olhar mais abrangente sobre a economia circular e a otimização da utilização de recursos. Este interesse reflete-se na participação em projetos internacionais, onde procuro desenvolver soluções colaborativas que permitam reduzir resíduos e melhorar a eficiência.
Que investigação se encontra a desenvolver neste momento?
Atualmente, a minha investigação está focada na implementação de um hub circular na região Centro de Portugal. Este trabalho tem sido desenvolvido no âmbito do projeto interreg CHEERS4EU que integra sete parceiros Europeus: Province of Limburg (Países Baixos, NL) (Parceiro líder); Helsinki Region Environmental Services Authority HSY (Finlândia, FI); Pardubice Business Incubator (República Checa, CZ); SEKUENS - Science, Business Competitiveness and Innovation Agency of Asturias (Espanha, ES); Skive Municipality (Dinamarca, DK); Standortagentur Tirol (Áustria, AT); e Universidade de Coimbra (Portugal, PT). Este projeto pretende acelerar a transição para uma economia circular nas regiões da Europa, com foco em Circular Hubs. Ao partilharem boas práticas sobre Circular Hubs, todas as regiões da UE podem ser fortalecidas. O hub funcionará como um ponto de encontro para diferentes entidades – empresas, instituições públicas e organizações da sociedade civil – que pretendam adotar práticas mais sustentáveis nas suas operações.
Quais os objetivos dessa investigação?
Os principais objetivos da minha investigação atual são os seguintes: facilitar a transição para a economia circular - criar um espaço de colaboração onde empresas e entidades públicas possam trocar experiências, identificar sinergias e implementar soluções circulares nas suas cadeias de abastecimento; reduzir desperdícios e melhorar a eficiência - através da partilha de recursos e da reutilização de materiais, pretende-se reduzir a produção de resíduos e tornar os processos produtivos mais sustentáveis; promover a inovação e a sustentabilidade - desenvolver novas abordagens e estratégias que permitam otimizar o uso de recursos naturais, promovendo modelos de negócio sustentáveis e economicamente viáveis; sensibilizar e envolver diferentes setores da sociedade - demonstrar como a transição para uma economia circular pode trazer benefícios não só para as empresas, mas também para o ambiente e para a qualidade de vida das pessoas. Com estas iniciativas, espero criar um impacto positivo tanto a nível regional como global, incentivando a adoção de práticas sustentáveis e contribuindo para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.
Qual o impacto ou a aplicação mais prática que a investigação que desenvolve neste momento pode ter para a sociedade?
A investigação que estou a desenvolver pode ter um impacto muito concreto na forma como gerimos os recursos e organizamos a produção e o consumo. Algumas das aplicações práticas incluem o poio às empresas na transição para a economia circular, a redução do desperdício alimentar, o desenvolvimento de políticas públicas mais sustentáveis e a maior sensibilização da sociedade. Em suma, a investigação pretende não só gerar conhecimento, mas também transformar esse conhecimento em soluções reais e aplicáveis que contribuam para uma sociedade mais sustentável.
Na próxima quarta-feira, vai participar, a partir das 18h00, no programa de conversas com cientistas Pontos nos iii, promovido pelo UC Exploratório, com o tema “Combater o Desperdício Alimentar: Desafios na Cadeia de Abastecimento de Produtos Frescos”. O que é que o público pode esperar desta sessão?
Nesta sessão, o público pode esperar uma conversa acessível e esclarecedora sobre um dos grandes desafios da atualidade: a perda e o desperdício alimentar. Irei explicar por que razão este problema é tão relevante, abordando os seus impactos económicos, ambientais e sociais. Além disso, vou partilhar algumas das principais conclusões da minha investigação sobre as causas do desperdício alimentar ao longo da cadeia de abastecimento de produtos frescos e apresentar estratégias eficazes para mitigar este problema. Algumas questões que iremos abordar incluem a resposta às seguintes perguntas: Porque é que tanto alimento se perde antes de chegar ao consumidor? Que fatores contribuem para o desperdício ao longo da cadeia de abastecimento? Que soluções podem ser implementadas para reduzir estas perdas? A sessão será também uma oportunidade para interagir com o público, esclarecer dúvidas e incentivar a reflexão sobre como cada um de nós pode contribuir para um sistema alimentar mais sustentável. Espero que seja um momento de partilha enriquecedor, que inspire novas perspetivas sobre o desperdício alimentar e a sua prevenção