
Freguesia de Ega (Condeixa) distribui sobreiros em sinal de protesto
Na véspera da queda do Governo foi publicado um despacho que permite a construção de três parques fotovoltaicos em Ega, Condeixa, com corte de 1.070 sobreiros. A compensação virá com a plantação de mais de sete mil sobreiros em Marvão, a 180 quilómetros de distância, uma das razões que leva o presidente da Junta de Freguesia de Ega a contestar a autorização e a avançar, no Dia da Árvore, 21 de março, com a distribuição de 160 sobreiros pela população local.
Rodolfo Silva critica o estatuto de relevante interesse público, atribuído pelos governantes ao projeto da empresa Anadia Green, que pretende instalar os três parques solares numa área de 12,31 hectares de terreno privado, com abate de 1.070 sobreiros (970 jovens e 100 sobreiros adultos), em Corteses, Quinta do Vale e São Fipo. «Será mandada abaixo uma área verde» e colocados parques fotovoltaicos «à porta das pessoas», em São Fipo, Ega e Sebal, lamenta o autarca da Ega, ao assinalar que os pareceres favoráveis que projeto recolheu são meramente técnicos, não avaliam outras questões. Refira-se que o projeto em causa não exige, atualmente, avaliação de impacte ambiental.
No despacho, a ministra do Ambiente e Energia, Maria Graça Carvalho, e o secretário de Estado das Florestas, Rui Ladeira Pereira, atendem, entre outras questões, à criação de emprego na região, de forma direta ou indireta, o que Rodolfo Silva contesta, porque poderá criar postos de trabalho na instalação, depois será uma mera questão de manutenção.
O presidente da Junta de Freguesia de Ega critica ainda a localização da medida compensatória (obrigatória por lei), com plantação de 7.400 castanheiros no parque natural do Marvão, Portalegre, em terrenos adquiridos pela Anadia Green SA, a 180 quilómetros de Condeixa. Neste contexto, a Junta de Freguesia da Ega irá protestar com a distribuição, no próximo sábado, de 160 plantas de sobreiro, que podem ser reservadas por meios colocados à disposição, como telefone (239 944 768 ou email [email protected]).
«Esta é uma forma de protesto, ainda que simbólica, que acompanha os ofícios já remetidos à ministra do Ambiente e Energia e ao secretário de Estado das Florestas (ainda sem resposta) a dar conta de toda a insatisfação e a solicitar a anulação do despacho», divulga a autarquia.
Recorde-se que o presidente da Câmara de Condeixa, Nuno Moita, considerou o projeto, que implica um investimento de 18,5 milhões de euros, «uma mais-valia», tendo em conta a participação do concelho no esforço de se ter uma economia verde e de descarbonização.
No entanto, o autarca ressalvou que a autarquia se limitou a aferir que o projeto cumpria o Plano Diretor Municipal, tendo a aprovação sido da competência da Direção Geral de Energia e Geologia e do Governo.
Entretanto, a associação ambientalista Quercus considerou que a empresa promotora deveria ter considerado alternativas de localização em áreas sem povoamentos de sobreiros ou espaços florestais, onde o impacto ambiental seria substancialmente menor. «Apesar de apresentar condições, trata-se de um projeto privado, cuja classificação como imprescindível utilidade pública suscita preocupações», acrescentou.
Ontem foi a vez da associação Zero notar, referindo-se ao projeto para a Ega, que as energias renováveis não podem justificar a destruição da natureza, criticando «compensações inadequadas» por essa destruição. «Sem avaliação ambiental estratégica, continuam a sacrificar-se áreas naturais», diz a Zero, ao criticar a replantação num parque natural. Os parques naturais «não devem ser usados para compensar, porque eles já são dedicados à conservação da natureza. E a compensação deve ser perto da zona onde ocorreu o abate», sustenta.