
Tribunal julga quinteto com negócio organizado de venda de droga
Com responsável pela ligação com fornecedores, vários níveis de revendedores e diferentes locais de armazenamento. Pode resumir-se assim o processo que leva a tribunal cinco arguidos, entre eles dois irmãos (e “cabecilhas” do grupo) que se dedicavam à compra e venda de droga, nomeadamente cannabis, haxixe e cocaína, em Coimbra e arredores.
Este “negócio”, desmantelado pelas autoridades em maio do ano passado, com buscas nas habitações de todos os arguidos, tinha como elemento principal um dos irmãos, com 35 anos, preso preventivamente no Estabelecimento Prisional de Aveiro. A sua ligação à compra e venda de produto estupefaciente terá começado em 2020 mas, de acordo com o Ministério Público (MP), intensificou-se e passou a ser mais regular a partir de 2022, altura em que o irmão, agora com 43 anos, se juntou à “sociedade”.
De acordo com a acusação, o irmão mais novo liderava o processo junto dos fornecedores e, depois, entregava a droga ao mais velho, que a armazenava e vendia não só a consumidores, mas também a revendedores (nomeadamente os outros três arguidos neste processo), que negociavam junto dos seus próprios clientes. Para fazerem face às encomendas, faziam «compras de 15 em 15 dias para revenda», avança o documento.
Excel com devedores e oferta da primeira dose
Era, portanto, um “negócio” com lucros avultados (entre 45 a 90 euros por uma ou duas placas de haxixe vendidas) e de tal maneira organizado que, continua o MP, os dois irmãos tinham «um ficheiro de Excel» com a lista de clientes e respetivas dívidas e se “davam ao luxo” de não cobrar pela primeira encomenda para fidelizar clientela. Uma clientela de «um número indeterminado», mas que era vasta, tendo em conta a quantidade de clientes associados aos arguidos, identificados no processo.
O volume de produto adquirido para revenda obrigava os dois principais arguidos a recorrer a terceiros para armazenar a droga. A habitação dos outros três arguidos – todos a viverem na mesma zona – era uma solução, o mesmo acontecendo com as companheiras do principal arguido, que, de acordo com o Ministério Público, com medo do companheiro, aceitaram a droga nas suas casas e permitiram que usasse os seus cartões de débito e números de telemóvel para as transferências de MbWay com que muitos clientes pagavam as encomendas.
O “negócio” foi desmantelado em maio do ano passado, mês em que as autoridades fizeram buscas domiciliárias a cada um dos arguidos, tendo encontrado e apreendido material que confirmava a ligação de todos ao tráfico de droga. Um deles tinham em sua posse o correspondente a 1.118 doses de resina de cannabis e 229 doses de haxixe. Cada um dos arguidos será agora julgado pelo Tribunal de Coimbra pelo crime de tráfico de estupefaciente.
Principal arguido condenado por violência doméstica
As duas companheiras do principal arguido terão sido «molestadas fisicamente e verbalmente» durante «o período das relações de namoro, acatando o que lhes era solicitado por recearem pela sua integridade física, sendo que o produto estupefaciente foi armazenado pelo arguido nas residências onde também habitavam, sem que tenham consentido ou participado ativamente em tal atividade», pode ler-se na acusação.
Aliás, o Ministério Público sublinha que o principal arguido, neste momento preso preventivamente, foi acusado pelas duas companheiras de violência doméstica, tendo sido condenado a três anos e três meses de prisão por este crime, em relação ao processo que envolveu a segunda mulher, com quem manteve uma relação menos de um ano, entre julho de 2022 e março de 2023.