
«Blue Hawaii Bar» uma das obras de «A Fábrica das Sombras»
Reconhecidos internacionalmente pelas suas instalações site-specific e pelas experiências áudio e vídeo que criam, os artistas — que vivem e trabalham no Canadá — apresentam 13 obras que ocupam e transformam o Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, desafiando a perceção do espaço e ativando novas camadas de escuta e interpretação.
A exposição pode ser visitada de quarta a domingo, das 11h00 às 19h00, com entrada livre.
Semanalmente, destacamos uma das obras que compõem «A Fábrica das Sombras» — num convite contínuo à descoberta desta exposição única.
«Blue Hawaii Bar» uma das obras de «A Fábrica das Sombras»
«Blue Hawaii Bar», 2007, de Janet Cardiff & George Bures Miller, uma instalação multimédia com áudio Loop de 9 minutos.
Na cisterna do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, reservatório de água histórico que durante anos alimentou o edifício, caminha o espectador no escuro, num piso coberto de água. Segue alimentado por uma música de acordes caracteristicamente familiares do ukulele — símbolo vibrante da cultura havaiana — e os reflexos de uma luz calorosa e amigável, que suscitam memórias de praia e de sol. Contrariamente, o que se vive é um caminho sombrio e desconhecido. No final, um bar em palapa e bambu confirma o que a mente adivinhava: o destino é a instalação de um bar havaiano, ainda que a envolvente não lhe corresponda. Blue Hawaii Bar, cujo nome nasce de dois áudios — «Blue Velvet» (1) e «Hawaiian Wedding Song» (2) —, acorda a saudade nostálgica de um momento passado e a vontade de o preservar. A obra desenvolve-se, assim, a partir das imagens recordadas, associações e sonhos, particulares a cada um, que se despertam durante o percurso graças à plasticidade escultural do som. Como voyeurs, antecipamos um final que nunca chega a cumprir-se totalmente, mas que aviva, neste compasso, a (nossa) amante. Ela não veste, porém, veludo azul; a sua forma é de local encantado, do outro lado do oceano, cuja tonalidade é a mesma do céu, do mar e das saudades. Um amor que tanto é a lembrança conservada do «romance de férias» como a idealização da paixão que, de tão sólida, se absorveu como novo real. Entre o factual e a ficção, a obra é a promessa de um amor eterno ao tamanho do imaginário de todos nós.
1 - Versão de Bobby Vinton (1963), da popular música «Blue Velvet», originalmente com composição e letra da autoria de Bernie Wayne e Lee Morris. A mesma foi inspirada numa visita de Bernie Wayne a Richmond, Virgínia, onde numa festa no Jefferson Hotel — onde ficou instalado — Wayne avistou continuamente uma convidada vestida em veludo azul, com quem viria a ter um romance de férias.
2 - Versão de Elvis Presley, popularizada no seu filme de 1961, Blue Hawaii, ainda que a versão original «Ke Kali Nei Au (Waiting There for Thee)» — em língua havaiana — tenha sido adaptada de uma canção de amor de 1926, mais tarde reescrita e renomeada como Hawaiian Wedding Song. A música simboliza a ligação eterna entre duas pessoas e desde sempre teve um profundo significado cultural, desempenhando um papel vital nas celebrações do amor e da união na cultura havaiana.
Desde a sua fundação em 2015, o Anozero — Bienal de Coimbra tem afirmado um modelo único de colaboração entre o Círculo de Artes Plásticas de Coimbra, a Câmara Municipal e a Universidade de Coimbra, trazendo à cidade exposições e artistas que desafiam as formas tradicionais de pensar, fazer e experienciar arte.