Marco Paulo: Herman recorda encontro do cantor com Serafim Saudade em palco
O humorista Herman José lamentou hoje a morte do cantor Marco Paulo, recordando o encontro do cantor num espetáculo com o personagem Serafim Saudade, depois de ultrapassada a “rejeição inicial” da caricatura.
“A nossa relação é muito engraçada porque começou com alguma tensão: ele não achou nenhuma piada à caricatura que lhe fiz com o personagem Serafim Saudade”, relatou, em declarações à agência Lusa.
Marco Paulo, nome artístico de João Simão da Silva, que se tornou conhecido com êxitos como “Eu Tenho Dois Amores” e “Maravilhoso Coração”, morreu hoje, aos 79 anos.
“Na altura [da criação do personagem Serafim Saudade] até lhe disse: Não te preocupes, aquilo é mais o Dino Meira [1940-1993], não tem nada a ver contigo”, lembrou ainda Herman José, acrescentando que, com o passar do tempo, Marco Paulo “percebeu que a personagem funcionava muito mais como homenagem do que como crítica”.
Ambos – Marco Paulo e Serafim Saudade – viriam a encontrar-se em palco, em 1982, num espetáculo em Montemor-o-Novo, no Alentejo: “Foi o reencontro”, comentou Herman José, que passou a manter com o cantor “relações muito cordiais”.
“Fomos ficando cada vez mais próximos e, na fase final, cheguei a ir ao programa dele na [estação de televisão] SIC. Fez-me muita impressão esta luta desigual que ele teve contra a doença”, lamentou ainda à Lusa o humorista.
Herman José recordou que o repertorio de Marco Paulo “foi adaptado de êxitos internacionais, mas teve continuamente o dom – com uma voz fora do comum e uma musicalidade extraordinária – de criar versões que ganhavam sempre”.
“Se ouvirmos os originais, são sempre mais fracos do que as versões de Marco Paulo”, avaliou o autor, ator e músico de 70 anos.
Deu como exemplo a música “Nossa Senhora”, do cantor brasileiro Roberto Carlos, que “ganha em Marco Paulo uma força que o original não tem, ou até a canção 'Maravilhoso Coração', do artista espanhol Rafael, que é muito mais frágil”.
“Ele tinha uma voz fora do comum, com um timbre inconfundível e mundialmente raro. Aquela voz funcionaria em qualquer país do mundo”, disse ainda Herman José, sublinhando a natural “capacidade de ir melhorando” os originais.