Lições de Valência: a importância das margens dos rios
Imagine um rio fluindo livremente entre margens repletas de arbustos e árvores que balançam ao ritmo de uma brisa suave. Não é por acaso que estes cenários sempre inspiraram pintores e poetas, os quais expressaram pela sua arte, a beleza e o poder da natureza. Mas um rio é muito mais do que um sistema idílico; ele é um sistema vivo, dinâmico e complexo, que protege e sustenta os ecossistemas naturais em que se exprime. Imagine, agora, este mesmo rio confinado em canais de betão e cercado por casas e estradas. O fluxo outrora suavizado por árvores e arbustos, facilmente se transforma numa torrente violenta e implacável. É assim que perturbamos o equilíbrio da natureza e rejeitamos a proteção que ela nos oferece.
Com frequência, a operação "limpeza dos leitos dos rios" é, na prática, uma eliminação indiscriminada da vegetação ribeirinha, como se as árvores e os arbustos fossem apenas obstáculos a remover. No entanto, espécies como amieiros, freixos, salgueiros e choupos desempenham um papel crucial neste contexto natural. Estas árvores atuam como obstáculo natural, abrandando o fluxo das águas pluviais e reduzindo o impacto destrutivo das inundações. Sem elas, os rios perdem a capacidade de absorver esses impactos, convertendo-se em forças destrutivas perante condições climáticas extremas.
A situação agrava-se com a proliferação de espécies invasoras, como a cana-comum (Arundo donax) que domina hoje muitas margens de rios. Ao contrário da vegetação nativa, adaptada a estes solos ripícolas, as plantas invasoras pouco contribuem para estabilizar as margens ou proteger contra as inundações. Em vez disso, elas sufocam as plantas nativas, que poderiam realmente proteger os rios e as comunidades próximas. Restaurar a vegetação ribeirinha nativa é crucial para o funcionamento dos ecossistemas, garantindo serviços como a qualidade e a disponibilidade da água que consumimos. É uma intervenção fundamental para nosso bem-estar e segurança.
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