Manuel Lopes Porto: um mestre admirável e um homem bom
«É um dia inesquecível! Estão aqui pessoas que me tocam profundamente e entidades que fizeram parte da minha carreira política e académica». Palavras de Manuel Lopes Porto a propósito da homenagem que lhe foi prestado pelo Centro Académico de Democracia Cristão (CADC), referindo-se em particular à Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC), à Universidade de Coimbra, à Câmara e Assembleia Municipal de Coimbra e também ao CADC. «É tocante! Estou feliz!», dizia ao Diário de Coimbra, antes da cerimónia, realizada no Instituto Justiça e paz, onde também decorreu o almoço.
Antigo consultor e presidente da CCDRC, presidente da Assembleia Municipal, catedrático da Faculdade de Direito, Lopes Porto assumiu a especial afinidade e afetividade que o liga ao CADC. Uma relação familiar de longa data. «O meu pai foi presidente do CADC em 1916 e eu fui presidente em 1965/69 e, depois, em 2018/2022», contou, lembrando ainda que foi sob a direção do seu pai que foram construídas as novas instalações, em cumprimento da decisão do então bispo de Coimbra, D. Manuel Coelho e Silva, inauguradas em 1939. Também os dois irmãos, Armando e João, estiveram ligados à direção, adiantou, destacando as «preocupações sociais» que sempre nortearam esta instituição. «Estou em casa!», afirmou.
A presidente da direção do CADC, recordou o «grandioso contributo» de Manuel Porto «ao longo de mais de 60 anos». «É sócio desde os 16 anos e aos 22 era presidente!», afirmou, dando nota que esta homenagem constitui «um sinal de apreço» a «um homem de bem», que «com notoriedade participou na res publica em Portugal e no mundo, especialmente na Europa», onde desempenhou durante 10 anos funções de eurodeputado. Maria José Azevedo Santos elogiou a «sapiência universitária» do homenageado, a sua «defesa intransigente dos valores católicos», o seu «amor à Universidade, onde continua a lecionar e ao CADC».
«Lopes Porto semeou muito e está a colher muito», afirmou Rui de Figueiredo Marques, que moderou a sessão e falou em nome da Academia de Ciências de Lisboa, da Fundação António José de Almeida, da Faculdade de Direito e da Reitoria da Universidade, que lembrou que o homenageado foi recentemente distinguido em Macau, ontem foi pelo CADC e «está no horizonte outra homenagem, em Lisboa». Um homem com «muito talento» e uma «inteligência torrencial». «A fulgurância do seu saber nasce nas montanhas, desde as escarpas e desaba em vaga alterosas, mas cristalinas na cabeça dos alunos»», disse, suscitando um enorme aplauso. «Uns afogavam-se», admitiu, mas «todos o olhavam com profunda admiração», sublinhou. «Lopes Porto é um mestre admirável», disse, apontando um conjunto de atributos pessoais «difíceis de igualar», como a «serenidade sem vislumbre de exaltação, a justiça sem intransigência, a tolerância sem arrepios, a lealdade sem deslizes, o amor ao próximo sem limites».
Álvaro Garrido, antigo diretor da Faculdade de Economia, falou sobre “Economia Social”, um tema «profundamente humano» e particularmente caro a Lopes Porto. Antes, enalteceu a «pessoa singular», a «generosidade incrível», a «densidade humana» e a «cortesia» do homenageado. Guilherme Oliveira Martins, administrador da Fundação Gulbenkian, outro dos oradores convidados, não pôde estar presente, mas enviou uma mensagem, onde destacou «grande professor», «o cidadão exemplar e cientista da maior probidade».
José Miguel Júdice, antigo bastonário da Ordem dos Advogados, amigo de longa data, definiu Manuel Porto como «moderado», que se assumiu enquanto tal antes, durante e após o 25 de Abril de 1974. Um «moderado» que «acredita na liberdade», que «acredita na democracia» e que, por isso, «é tolerante» e «tem total disponibilidade para ajudar os outros». «É incapaz de dizer não», disse, considerando que essa é «uma atitude de uma alma boa e de um homem moderado». «Muito obrigado por tudo o que deste a Portugal, a esta Universidade, a Coimbra, à política e aos teus amigos», concluiu, deixando um «grande abraço» da filha, Rita Júdice, ministra da Justiça, que ontem fez anos.
A cerimónia contou, entre outros, com a presença do bispo de Coimbra, D. Virgílio Antunes, do vice-reitor João Calvão da Silva, e dos presidente da CCDRC e da Câmara de Coimbra, Isabel Damasceno e José Manuel Silva, respetivamente, entre antigos alunos e muitos amigos, que aplaudiram, de pé, Manuel Lopes Porto.